UFU 2021/2 -“[...] para a maior parte da humanidade, a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidade. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes.”
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 30ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2020. p. 19. Considerando-se o trecho acima, responda.
A) Por que a pandemia de covid-19 provoca acentuação das desigualdades sociais no mundo globalizado?
B) Discorra sobre uma consequência da pandemia de covid-19 para o setor secundário da economia no Brasil e descreva uma dificuldade para o setor diante do processo de globalização.
RESPOSTA:
a) A pandemia de covid-19 afetou toda a humanidade, mas como outras características da globalização, seus efeitos foram extremamente
distintos em decorrência das condições socioeconômicas da população. No fundo, as desigualdades socioeconômicas estão sendo expostas e
amplificadas como em nenhum outro momento da história do pós-Segunda Guerra Mundial. Por causa das medidas necessárias para tentar
conter a propagação do vírus, milhões de pessoas no mundo perderam seus empregos e, portanto, a capacidade de subsistência própria e de
seus familiares. Assim, com a perda de seus salários foram lançados à condição de fome, além de não terem qualquer condição de pagar por
um tratamento médico, seja por causa da covid-19, seja por outra enfermidade. As moradias de milhões de pessoas no mundo são subnormais
e não oferecem qualquer condição de isolamento, bem como condições de insalubridade, fatos que contribuem para a circulação do vírus com
mais rapidez, fazendo mais vítimas entre a população mais pobre. Destaca-se que há vários grupos de maior vulnerabilidade, tais como as
mulheres perderam mais empregos que os homens, populações indígenas e outros povos tradicionais ficaram extremamente fragilizados
diante da propagação da doença, a população negra no Brasil tem mais chance de morrer em relação à população branca, entre tantos
exemplos. Os mais pobres têm maior risco de se contaminar e de morrer pela covid-19.
B) O setor secundário brasileiro, que envolve as atividades industriais, há muito sofre com a baixa competitividade no mercado internacional,
tendo como principais consumidores os mercados doméstico e sul-americano. Isso fica evidente ao observarmos a composição da pauta de
exportações do Brasil, em sua maioria composta por commodities agrícolas e minerais de baixa intensidade tecnológica (valor agregado). Assim, com a necessária restrição de atividades para o enfrentamento do quadro pandêmico, tanto no Brasil quanto em países vizinhos, em
especial na Argentina, grande importadora de produtos industrializados brasileiros, ocorreram significativas retrações econômicas. No
cenário doméstico brasileiro a demanda foi estrangulada em muitos setores. Tal fato derivou do crescimento do desemprego, que atualmente
afeta cerca de 15 milhões de pessoas, do desalento, que hoje atinge aproximados 6 milhões, da informalidade e subocupação, que
restringiram os ganhos da população, bem como a desvalorização da moeda nacional e a alta dos preços, tudo isso somados à incapacidade
do Estado, em especial na esfera federal, de atenuar e mesmo reverter essa situação. Esse quadro contribuiu para o fechamento de várias
unidades industriais, em especial no setor automobilístico, eletroeletrônico, entre outros. Além disso, a dependência da importação de
componentes para as cadeias produtivas internas, algo inerente ao atual estágio da globalização, dificulta o funcionamento de vários
segmentos, deixando assim uma grande parte do parque fabril ocioso e gerando graves prejuízos ao setor.
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