PUC-RIO 1999/2 - "A onda revolucionária na Europa após 1917 gerou imediatamente uma resposta contra-revolucionária. Entretanto, tal resposta não significou o retorno à religião e a uma rígida estratificação social, com as quais muitos conservadores europeus tradicionais tentaram, no passado, enfrentar as ameaças revolucionárias. Desta vez, havia um novo fenômeno - o fascismo ou nazismo - e uma nova sociedade, em que comícios de rua proliferavam e multidões entusiasmadas aplaudiam a pregação de líderes uniformizados contra socialistas, intelectuais, estrangeiros e judeus." - Robert O. Paxton, Europe in the 20th Century. NY: Harcourt Brace Jovanovich, 1991
Tendo como referência o texto acima,
Dê dois (2) exemplos de como, em seu apelo às massas, o discurso fascista ou nazista justificou a necessidade de oposição ferrenha aos socialistas, liberais e estrangeiros.
RESPOSTA:
Anti-liberalismo: Expressa-se particularmente na:
- defesa do sindicalismo corporativista como uma doutrina que possa superar as idéias do laissez-faire da economia liberal;
- ideia de economia crescentemente planejada em função dos interesses sociais, representados pelo Estado corporativo;
- concepção de um Estado total que invada as diferentes esferas da vida social (família, escolas, trabalho, lazer, etc);
- negação dos valores racionalistas do século XIX;
- oposição aos poderes constitucionais clássicos, de representação parlamentar, incentivando em seu lugar a ação direta dos fasci de combate (bandos armados buscando a ‘justiça’ pelas própria mãos) e, posteriormente, a aceitação da supressão das liberdades políticas com o Estado de sítio;
- proposta de um Estado autoritário e popular, guiado pelo líder – o füher ou o duce
- proposta de uma sociedade de combatentes e produtores (contemplando os interesses sobretudo dos pequenos proprietários e pequenos comerciantes) contra o grande capital, identificado à ação dos trustes industriais e dos grandes financistas; etc
Anti-socialismo: Expressa-se sobretudo no:
- temor da pauperização que atinge os setores médios urbanos no entre-guerras (mercado de trabalho comprimido + perda de status) num momento de grande ascenção do sindicalismo organizado, de crescimento dos partidos socialistas e da criação dos partidos comunistas na Europa, com o propósito de "fazer como na Rússia";
- propósito de substituir a autonomia do movimento sindical por um sindicalismo atrelado ao corporativismo do Estado;
- encaminhamento do fim da luta de classes, propondo a reconciliação dessas sob uma ordem corporativa e em nome da Nação, como interesse maior;
- entendimento de que o marxismo é ao mesmo tempo inimigo e aliado do grande capital e, em alguns casos, aliado do judaísmo; etc
Perseguição aos estrangeiros: Expressa-se no:
- desenvolvimento entre a população de europeus menos esclarecidos de um conjunto de concepções racistas , sob a forma de antisemitismo (o que tornava lugar comum, desde o século XIX, as políticas de russificação do czar dirigidas a vários povos e a conhecida prática dos pogroms contra os judeus);
- revivalismo da hostilidade cristã medieval aos judeus, que se vê reforçada pela pregação das teorias racistas do século XIX, defensoras da eugenia;
- o medo de perda da identidade cultural, como defendia Oswald Spengler em seu O Declínio do Oeste (1919): para este autor a "cultura"(identificada a tradições alemãs há muito enraizadas que diferiam dos valores mais gerais dos europeus ocidentais) estava sendo esmagada pela "civilização" (o cosmopolitismo e a cultura de massa comercializada que então se tornava marca do Ocidente); defendia por isso uma verdadeira cruzada contra os estrangeiros pela defesa dos valores "viris e espirituais germânicos";
- expansionismo italiano (na tentativa de volta à glória da Roma Imperial) e germano-austríaco (na tentativa de reunificar o povo alemão disperso entre judeus e eslavos em muitas partes da Europa central);
- conjunto de legislações restritivas aos estrangeiros aplicadas em vários países: proibindo o casamento com elementos identificados ao grupo ariano, estabelecendo quotas nas profissões e reduzindo a cidadania de alguns grupos étnicos;
- a imposição, em alguns casos, de migrações forçadas, seguidas da expropriação de bens e, após os Decretos de Nuremberg (1935), o envio aos campos de concentração (de judeus e outros) torna-se de praxe na Alemanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário