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terça-feira, 13 de junho de 2023

Questão de Literatura - FDF 2014 - O Senão do Livro

FDF 2014 - O Senão do Livro

Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens a pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita é à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem.

E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.

Este capítulo integra o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis e publicado em 1.881. Dele, e da obra como um todo, pode-se depreender que
a) destoa do estilo geral do autor, que evita o uso de digressões pois entende que elas atrapalham o leitor. 
b) se caracteriza por procedimento metalinguístico, no qual o narrador reflete sobre seu ato de escrever e analisa criticamente seu estilo irregular e vagaroso. 
c) afirma que o livro cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica, porque é uma obra de finado e trata apenas de fatos da eternidade. 
d) atribui ao leitor o grande defeito do livro, por isso desconsidera-o ao longo do romance e evita com ele qualquer tipo de diálogo. 
e) é um capítulo desnecessário e o narrador pensa em suprimi-lo porque transgride a estrutura rigorosamente linear do romance.

RESPOSTA:
Letra B.

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