O substantivo “ambiente” e o adjetivo “ambiental” vêm sendo empregados de forma generalizada e ampla nas lides científicas e jornalísticas, expressando variedade de facetas em seus significados. Muitas vezes, há incoerências e erros grosseiros em sua aplicação.
O termo “ambiente” possibilita ser aplicado em questões que oscilam desde a escala de grandeza mundial até a microescala pontual. Pode-se falar do ambiente terrestre, dos ambientes continentais, dos ambientes oceânicos, dos ambientes lacustres, dos ambientes das plantas, dos animais e dos homens, do ambiente de trabalho, do ambiente social, do cultural, etc. A palavra é a mesma, mas diferentes são os significados e a expressividade do fenômeno mencionado. Comumente também se fala do ambiente familiar e do ambiente de oportunidades.
Para o contexto da problemática ambiental há necessidade de utilizar conceitos definidos de modo mais preciso, com enunciados que permitam a operacionalização através do uso de procedimentos analíticos e critérios de avaliação. Para essa finalidade, duas perspectivas podem ser lembradas. A primeira tem significância biológica e social e valor antropocêntrico, focalizando o contexto e as circunstâncias que envolvem o ser vivo, sendo o ambiente definido como “as condições, circunstâncias e influências sob as quais existe uma organização ou um sistema. Pode ser afetado ou descrito pelos aspectos físicos, químicos e biológicos, tanto naturais como construídos pelo homem. O ambiente é comumente usado para referir-se às circunstâncias nas quais vive o homem” (Brackley, 1988). A segunda perspectiva considera a funcionalidade interativa da geosfera-biosfera, focalizando a existência de unidades de organização englobando os elementos físicos (abióticos) e bióticos que compõem o meio ambiente, elaboradas mesmo sem a presença e ação do ser humano. São as unidades que compõem as características paisagens da superfície terrestre. Dessa maneira, o termo “meio ambiente” é usado como representando o conjunto dos componentes da geosfera-biosfera.
Quando se deseja analisar as questões ambientais, as mudanças nas escalas espaciais do globo, regional e local, incluindo as dimensões da presença e atividades humanas, a segunda concepção surge como a mais adequada. Os temas e as propostas relacionados com a Conferência Internacional do Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, a Eco-92, enquadram-se nessa perspectiva.
Para melhor compreender as unidades de organização do meio ambiente, torna-se necessário distinguir as noções de ecossistemas e geossistemas. O ecossistema, conforme Howard Odum, é constituído por “qualquer unidade que inclui a totalidade dos organismos em uma determinada área interagindo com o meio ambiente físico, de modo que um fluxo de energia promove a permuta de materiais entre os componentes vivos e abióticos”. Nessa cadeia de interação com a relevância biológica, podem-se analisar o fluxo de energia, o fluxo de nutrientes, a produtividade, a dinâmica da população, a sucessão, a biodiversidade, a estabilidade e o grau de modificações. É o campo de ação da ecologia, que pode ser trabalhada, por exemplo, como ecologia das plantas, ecologia dos animais e ecologia humana.
Os geossistemas, também designados como sistemas ambientais físicos, representam a organização espacial resultante da interação dos elementos físicos e biológicos da natureza (clima, topografia, geologia, águas, vegetação, animais, solos). É o campo de ação da geografia física. Os sistemas ambientais físicos possuem uma expressão espacial na superfície terrestre, funcionando através da interação areal dos fluxos de matéria e energia entre os seus componentes. Assim, os ecossistemas locais são integrados nessa organização mais abrangente e de maior complexidade hierárquica.
Dessa maneira, a natureza organiza-se e alcança um equilíbrio no nível dos ecossistemas e geossistemas, que se expressam na composição fisionômica da superfície terrestre. Por meio da ocupação e do estabelecimento das suas atividades, os seres humanos vão usufruindo desse potencial e modificando os aspectos do meio ambiente, inserindo-se como agentes que influenciam nas características visuais e nos fluxos de matéria e energia, modificando o “equilíbrio natural” dos ecossistemas e geossistemas. Para avaliar a intensidade da ação humana na modificação do meio ambiente, ao longo dos séculos, penetra-se no estudo dos impactos ambientais, que têm origem e são causados pelas atividades socioeconômicas.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Meio ambiente e urbanização no mundo tropical. In: SOUZA, Maria Adélia A. de; SANTOS, Milton; SCARLATO, Francisco C.; ARROYO, M. (Org.). O novo mapa do mundo – natureza e sociedade de hoje: uma leitura geográfica. São Paulo: Hucitec/Anpur, 1997. p. 127-129.
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