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domingo, 10 de abril de 2022

Redes agroindustriais

Com a difusão desse conjunto de inovações [tecnológicas] configurando novos sistemas técnicos agrícolas, a agropecuária tornou-se crescentemente dependente do processo científico-técnico de base industrial, minimizando a anterior vantagem relativa representada pela produção localizada nos melhores solos, nas topografias mais adequadas, entre outros. Além disso, aumentou a possibilidade de aproveitamento dos solos menos férteis e de ocupação intensiva de territórios desprezados para tal atividade, relativizando-se as questões locacionais, antes imprescindíveis.

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Nesse sentido, um dos principais signos do agronegócio e da agricultura científica no Brasil é uma crescente interdependência com os demais setores da economia. A partir desta interdependência ocorrem processos frequentes de fusão com capitais dos setores industriais, comerciais e de serviços. Tais fusões se dão juntamente com o aumento de sua presença no circuito superior da economia (SANTOS, 1979).

Outra característica da difusão do agronegócio é seu financiamento totalmente regulado pela economia de mercado, em razão das demandas urbanas e industriais. As relações entre os setores agrícola e industrial merecem destaque, por propiciarem o desenvolvimento de muitos ramos industriais, notadamente dos que fornecem insumos e bens de capital para a agricultura, assim como das indústrias que processam os produtos agropecuários – agroindústrias –, transformando-os em mercadorias padronizadas para o consumo de massa globalizado.

Tudo isto leva à multiplicação dos espaços da produção e das trocas agrícolas globalizadas, e induz os espaços agrícolas a inúmeras transformações, os quais se mostram extremamente suscetíveis de aceitação do capital do agronegócio. Isto se deve, em parte, ao fato de possuírem pequena quantidade de pedaços de tempo materializados, o que permite imediata difusão do capital novo e possibilidade de responder mais rapidamente aos interesses das empresas hegemônicas dos setores agropecuário e agroindustrial.

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Podemos considerar um outro aspecto da reestruturação produtiva da agropecuária brasileira, que seria um processo de integração de capitais a partir da centralização de capitais industriais, bancários, agrários, etc., expansão de sociedades anônimas, cooperativas agrícolas, empresas integradas verticalmente (agroindustriais ou agrocomerciais), assim como a organização de conglomerados empresariais por meio de fusões, organização de holdings, cartéis e trustes, com atuação direta nos CAIS [complexos agroindustriais] (Delgado, 1985).

Desta forma, a reestruturação produtiva da agropecuária brasileira resulta na formação de redes agroindustriais globalizadas que associam: empresas agropecuárias, fornecedores de insumos químicos e implementos mecânicos, laboratórios de pesquisa biotecnológica, prestadores de serviços, agroindústrias, empresas de distribuição comercial, empresas de pesquisa agropecuária, empresas de marketing, cadeias de supermercados, empresas de fast-food, etc.

Como consequência, temos a intensificação da divisão social e territorial do trabalho agrícola, das trocas intersetoriais, da especialização da produção e a formação de diferentes arranjos territoriais produtivos agrícolas. Reforçam-se as determinações exógenas ao lugar de produção, especialmente no tocante aos mercados cada vez mais longínquos e competitivos. Fato semelhante ocorre em relação aos preços, internacionais e nacionais, comandados pelas principais bolsas de mercadorias do mundo, sobre os quais não há controle local. Da mesma forma, aumentam as distâncias entre os produtores e os centros de decisão e de pesquisa.

Tudo isso tem profundos impactos sobre os espaços agrícolas, que passam, desde então, por um processo acelerado de reorganização, mostrando-se extremamente abertos à expansão da tecnosfera e da psicoesfera (SANTOS, 1994, 1996, 2000). Organizam-se verdadeiros sistemas técnicos (de eletrificação, de armazenagem, de irrigação, de transportes, de telecomunicações, etc.) voltados para o objetivo de dotar o espaço agrícola de fluidez para as empresas hegemônicas do setor. Isto induz à mecanização dos espaços agrícolas, e onde a atividade agropecuárias se dá baseada na utilização intensiva de capital, tecnologia e informação, é visível a expansão do meio técnico-científico-informacional, revelando o dinamismo da produção do espaço resultante da reestruturação produtiva da agropecuária.

Uma vez que a reestruturação produtiva da agropecuária privilegia áreas, produtos e segmentos sociais, tem acarretado profundos impactos sociais, territoriais e ambientais, a culminar na territorialização do capital no campo e na oligopolização do espaço agrário. Desse modo, agrava-se a histórica concentração fundiária e impõe-se uma nova dinâmica ao mercado de terras, com forte intensificação do valor de troca em detrimento do valor de uso, contrariando ainda mais as aspirações pela Reforma Agrária, que se mercantilizou na última década (com a substituição da desapropriação pela compra da terra). Tudo isto promove decisivas transformações nas formas de trabalho agrícola, no espaço agrícola e no incremento da urbanização da sociedade e do território.

ELIAS, Denise. Redes agroindustriais e produção do espaço urbano no Brasil agrícola. In: SILVA, José Borzacchiello da; LIMA, Luiz Cruz; ELIAS, Denise (Org.). Panorama da geografia brasileira 1. São Paulo: Annablume/Anpege, 2006. p. 222-225.

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