Pensar o desenvolvimento (rural) sustentável implica pensar que estratégias e desafios serão utilizados para tornar o progresso humano viável. Assim, o planejamento do desenvolvimento deve levar em conta, simultaneamente, seis dimensões, assim constituídas, a partir das ideias de Sachs (1994), Flores e Nascimento (1994) e Cruz (1995):
• sustentabilidade econômica: deve ser viabilizada através de projetos e iniciativas (públicas e privadas) que possam gerar uma rentabilidade econômica, tornando possível a participação da população para melhorar sua qualidade de vida;
• sustentabilidade ecológica: deve ser orientada para buscar a harmonia e o equilíbrio com a natureza, através de práticas que não destruam o meio ambiente;
• sustentabilidade social: deve fazer com que os benefícios do desenvolvimento atinjam todos os membros da sociedade para que possam satisfazer suas necessidades econômicas, sociais, políticas e culturais;
• sustentabilidade espacial ou geográfica: deve ser dirigida para obter uma configuração rural-urbana
mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades
econômicas;
• sustentabilidade cultural: as ações devem respeitar as
tradições, os costumes e as especificidades das diferentes sociedades;
• sustentabilidade política: os enfoques do desenvolvimento devem ser capazes de gerar bases consensuais e
de participação democrática, considerando os diferentes
setores e posições ideológicas da sociedade.
Quanto ao espaço rural, os objetivos da sustentabilidade estão associados ao objetivo da produção agrícola.
Portanto, os desafios básicos são no sentido de aumentar
a produção e a riqueza social em dependência externa
(desafio econômico); reduzir as desigualdades sociais, proporcionando uma distribuição mais equitativa dos benefícios à população envolvida no processo (desafio social); e
manter a qualidade do meio ambiente e a preservação das
fontes de recursos energéticos e naturais para as gerações
futuras (desafio ecológico).
Para tornar esses desafios realidade é necessário que
um programa de desenvolvimento rural sustentável considere o homem como centro do processo, conforme já evidenciado, assumindo uma perspectiva a longo prazo, pois
uma mudança radical do padrão tecnológico adotado não
será feita de forma rápida.
Para “cumprir” os desafios que são impostos à grande empresa rural (ou à agricultura moderna), algumas
medidas a serem tomadas são fundamentais na ruptura
com o atual padrão produtivo da Revolução Verde, “pois
não é fácil entender como o uso de produtos químicos
que têm contaminado o ambiente, os recursos naturais e
os alimentos possa ser enquadrado no conceito de agricultura sustentável” (Paschoal, 1995:12).
A participação da sociedade civil no empreendimento dessas medidas é de fundamental importância e deve
ser viabilizada no “sentido” de lutar:
• por uma política ambiental e conservação dos recursos
naturais;
• por uma cooperação para satisfazer as necessidades da
população;
• por melhor distribuição das riquezas e otimização de
resultados, com o objetivo de reduzir a pobreza, eliminar
a miséria, aumentar a oferta de empregos;
• pela segurança alimentar;
• pela adoção de políticas públicas que estimulem a substituição de sistemas produtivos simplificados por sistemas rotacionais diversificados;
• pela produção de alimentos com elevada qualidade nutritiva e em quantidades suficientes para atender à demanda global;
• pelo fortalecimento da pesquisa agropecuária.
Em síntese, um dos maiores desafios da humanidade e,
seguramente, o maior desafio do século XXI no processo de
desenvolvimento rural sustentável será “conciliar o atendimento da segurança alimentar de uma população mundial
– que continuará a crescer rapidamente – com a necessidade
de conservar os recursos naturais” (Ehlers, 1995).
PESSOA, Vera Lúcia Salazar. Desenvolvimento rural sustentável:
desafios na questão ecológica, econômica e social da grande empresa
rural no Brasil. In: CASTRO, Iná Elias de; MIRANDA, Mariana; EGLER,
Cláudio A. G. (Org.). Redescobrindo o Brasil: 500 anos depois. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil/Faperj, 1999. p. 246-248.
Nenhum comentário:
Postar um comentário