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domingo, 10 de abril de 2022

Os desafios da agricultura no contexto do desenvolvimento sustentável

Pensar o desenvolvimento (rural) sustentável implica pensar que estratégias e desafios serão utilizados para tornar o progresso humano viável. Assim, o planejamento do desenvolvimento deve levar em conta, simultaneamente, seis dimensões, assim constituídas, a partir das ideias de Sachs (1994), Flores e Nascimento (1994) e Cruz (1995): 
• sustentabilidade econômica: deve ser viabilizada através de projetos e iniciativas (públicas e privadas) que possam gerar uma rentabilidade econômica, tornando possível a participação da população para melhorar sua qualidade de vida; 
• sustentabilidade ecológica: deve ser orientada para buscar a harmonia e o equilíbrio com a natureza, através de práticas que não destruam o meio ambiente; 
• sustentabilidade social: deve fazer com que os benefícios do desenvolvimento atinjam todos os membros da sociedade para que possam satisfazer suas necessidades econômicas, sociais, políticas e culturais;
• sustentabilidade espacial ou geográfica: deve ser dirigida para obter uma configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas; 
• sustentabilidade cultural: as ações devem respeitar as tradições, os costumes e as especificidades das diferentes sociedades; 
• sustentabilidade política: os enfoques do desenvolvimento devem ser capazes de gerar bases consensuais e de participação democrática, considerando os diferentes setores e posições ideológicas da sociedade. 

Quanto ao espaço rural, os objetivos da sustentabilidade estão associados ao objetivo da produção agrícola. Portanto, os desafios básicos são no sentido de aumentar a produção e a riqueza social em dependência externa (desafio econômico); reduzir as desigualdades sociais, proporcionando uma distribuição mais equitativa dos benefícios à população envolvida no processo (desafio social); e manter a qualidade do meio ambiente e a preservação das fontes de recursos energéticos e naturais para as gerações futuras (desafio ecológico).

Para tornar esses desafios realidade é necessário que um programa de desenvolvimento rural sustentável considere o homem como centro do processo, conforme já evidenciado, assumindo uma perspectiva a longo prazo, pois uma mudança radical do padrão tecnológico adotado não será feita de forma rápida.

Para “cumprir” os desafios que são impostos à grande empresa rural (ou à agricultura moderna), algumas medidas a serem tomadas são fundamentais na ruptura com o atual padrão produtivo da Revolução Verde, “pois não é fácil entender como o uso de produtos químicos que têm contaminado o ambiente, os recursos naturais e os alimentos possa ser enquadrado no conceito de agricultura sustentável” (Paschoal, 1995:12). 

A participação da sociedade civil no empreendimento dessas medidas é de fundamental importância e deve ser viabilizada no “sentido” de lutar: 
• por uma política ambiental e conservação dos recursos naturais;
• por uma cooperação para satisfazer as necessidades da população; 
• por melhor distribuição das riquezas e otimização de resultados, com o objetivo de reduzir a pobreza, eliminar a miséria, aumentar a oferta de empregos; 
• pela segurança alimentar; 
• pela adoção de políticas públicas que estimulem a substituição de sistemas produtivos simplificados por sistemas rotacionais diversificados; 
• pela produção de alimentos com elevada qualidade nutritiva e em quantidades suficientes para atender à demanda global; 
• pelo fortalecimento da pesquisa agropecuária. Em síntese, um dos maiores desafios da humanidade e, seguramente, o maior desafio do século XXI no processo de desenvolvimento rural sustentável será “conciliar o atendimento da segurança alimentar de uma população mundial – que continuará a crescer rapidamente – com a necessidade de conservar os recursos naturais” (Ehlers, 1995). 

PESSOA, Vera Lúcia Salazar. Desenvolvimento rural sustentável: desafios na questão ecológica, econômica e social da grande empresa rural no Brasil. In: CASTRO, Iná Elias de; MIRANDA, Mariana; EGLER, Cláudio A. G. (Org.). Redescobrindo o Brasil: 500 anos depois. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil/Faperj, 1999. p. 246-248. 

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