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quarta-feira, 14 de junho de 2023

Questão de Literatura - FDF 2011 - Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar

FDF 2011 - Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia. Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não molhar; via-se lhe a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As fossando e fungando contra as portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas. 

O trecho acima é do romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Da leitura dele depreende-se que é INCORRETO afirmar que 
a) apesar das marcas narrativas, o texto é fundamentalmente descritivo porque caracteriza o espaço e suas personagens. 
b) marca-se pela presença de sinestesia, na medida em que solicita o concurso de vários órgãos do sentido, na caracterização do ambiente. 
c) revela, na massa de sonoridades que constitui o texto, a presença expressiva de onomatopéias vocabulizadas. 
d) revela situações e procedimentos próprios de moradores de habitações coletivas em ambiente social e fisicamente degradado. 
e) utiliza, na seleção vocabular, termos e expressões que denotam ações capazes de identificar tão somente a essência do ser humano.

RESPOSTA:
Letra E.

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