Como Sartre interpretou a hipótese de Dostoievski e que papel ele atribui à responsabilidade dos indivíduos nas escolhas humanas?
RESPOSTA:
A frase de Dostoievski refere-se a um Deus (como no
judaísmo, no cristianismo e no islamismo) que decreta mandamentos de condutas para os seres humanos, dizendo-lhe o que é permitido e o que é proibido
e quais são as recompensas pela obediência e as punições pela desobediência. Portanto, se Deus não
existisse, não haveria tais mandamentos, e o ser humano teria que encontrar por si mesmo os valores
morais, as regras de conduta, a distinção entre o permitido e o proibido. Sartre considera que o existencialismo transforma a hipótese de Dostoievski (“Se..., então...”) numa afirmação: Deus não existe. Por isso,
o ser humano não tem desculpas para suas escolhas
e ações, porque todas dependem exclusivamente de
sua decisão e de sua liberdade e ele é inteiramente
responsável por elas. É esse o sentido da afirmação
“Estamos condenados a ser livres”. Essa afirmação parece um paradoxo, pois quem está condenado não é
livre, e não fomos livres para escolher o lugar, a sociedade e a época em que nascemos, mas, com ela, Sartre pretende marcar o radicalismo da liberdade, isto é,
não podemos usar a desculpa de que não escolhemos
as condições de nosso nascimento e de nossa classe
social, pois tanto aceitá-las quanto criticá-las e transformá-las são decisões livres. Em outros termos, para
Sartre, conformar-se ou resignar-se é uma decisão tão
livre quanto não se resignar nem se conformar. Por
isso não podemos nos esconder da liberdade nem fingir que não somos livres e responsáveis por tudo o
que desejamos, escolhemos e fazemos.
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