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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Origens do nazismo na Alemanha

Atualmente, quase oitenta anos após a derrota alemã para as forças aliadas na Segunda Guerra Mundial, o fantasma nazista tem voltado a assombrar a Europa. Na Alemanha, os grupos neonazistas são mais fortes nas cidades do leste, que registram quase a metade dos crimes raciais praticados no país. As duas principais explicações que têm sido apresentadas para essa intolerância são o desemprego, que é mais elevado nos estados do leste, e a baixa presença de imigrantes na região ao longo da história.

Mas é possível adicionar outra explicação para isso. O leste da Alemanha, especificamente o estado de Brandemburgo, é o berço da Prússia, reino fundado na Europa no início do século XVIII e estado alemão riscado do mapa após a Segunda Guerra Mundial. Ao eliminar o estado da Prússia, os países vencedores no conflito destruíam, simbolicamente, a tradição militarista prussiana, tida como a fonte da barbárie nazista. Nas palavras de um professor alemão contemporâneo, Hans-Ulrich Wehler, a “Prússia é o nosso veneno”

As tradições germânicas, entre elas o militarismo prussiano, foram utilizadas pelo nazismo para despertar nos alemães a paixão pela guerra. Hitler e as principais lideranças nazistas se apropriaram de valores da cultura prussiana presentes no imaginário coletivo para conquistar o consentimento popular ao projeto do Terceiro Reich, o Terceiro Império Alemão. Assim como o regime fascista na Itália, o nazismo teve êxito na Alemanha também por dialogar, na mesma linguagem, com a cultura alemã.

O projeto nacionalista difundido pelas elites políticas prussianas no século XIX e retomado mais tarde pela doutrina nazista resgatava antigas tradições germânicas, especialmente as dos povos escandinavos, os chamados vikings. O elemento essencial da cultura germânica que foi revalorizado era a guerra. Nas escolas, passou-se a difundir a disciplina militar e valores dos guerreiros medievais, como honra, coragem e fidelidade ao chefe. Bismarck, o líder do movimento de unificação da Alemanha, no século XIX, representava a ligação entre o passado de bravura dos germânicos e o Estado alemão nascido com a unificação, construído a “ferro e sangue”.

Com a exaltação da virtude guerreira, as escolas alemãs do século XIX difundiam a importância do vigor físico, da disciplina militar e do sacrifício em nome da pátria. Ao mesmo tempo, estimulavam o contato com a natureza, fonte de força e coragem, a vida em coletividade e o culto ao chefe. O regime nazista de Hitler se apropriou desses valores e agregou um novo elemento, o neopaganismo. O nazismo se afastava da tradição cristã, vista como a religião dos fracos, humildes e mansos, e resgatava o culto à força, à guerra e à natureza dos mitos pagãos, que faria nascer um novo homem.

O homem superior propagado pelo nazismo era o povo germânico, de raça ariana, que deveria ser purificado de toda contaminação liberal, cristã, humanista e universalista para retornar às origens, anterior à criação da cultura. Para construir esse homem superior, o exército alemão tinha a missão histórica de eliminar os principais inimigos da comunidade germânica: os comunistas e os judeus, além dos “marginais sociais”, que incluíam homossexuais, avessos ao trabalho, prostitutas, pedintes, criminosos e ciganos.

Mas o consenso que permitiu ao nazismo cometer os crimes que chocaram a humanidade não se apoiou apenas em uma cultura de exaltação da guerra, da violência e do mito da superioridade germânica. Esse regime adotou medidas concretas contra os efeitos da Grande Depressão na Alemanha que agradaram a maior parte da população. O nazismo é filho da cultura alemã, mas também é filho da Primeira Guerra Mundial, da intensa polarização política que marcou os anos 1920 e dos efeitos da crise econômica que eclodiu em 1929.

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