Para o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, os conceitos de sociedade disciplinar e biopoder não consideram uma característica central dos atuais regimes neoliberais, que, antes de tudo, explorariam a psique humana, buscando internalizar na mente dos indivíduos os ideais relacionados à produtividade. Por isso, Han cunha o termo de psicopolítica para nomear as técnicas de poder do neoliberalismo, que têm nas mídias digitais seu principal suporte.
“A técnica de poder do regime neoliberal assume uma forma sutil. Não se apodera do indivíduo de forma direta. Em vez disso, garante que o indivíduo, por si só, aja sobre si mesmo de forma que reproduza o contexto de dominação dentro de si e o interprete como liberdade.” HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnica de poder. Belo Horizonte: Âyiné, 2018. p. 44.
Produtividade, desempenho e eficácia são noções internalizadas, mas que podem ser quantificadas. O sujeito se autoimpõe jornadas de trabalho cada vez mais intensas e metas mais ambiciosas, de tal maneira que a linha divisória entre o trabalho e a vida se perde. Há uma espécie de autoexploração que serve ao sistema neoliberal.
Além disso, o indivíduo “empreendedor” age como se fosse sujeito de seu destino, cujas ações visam concretizar uma vida de sucesso, um projeto cujo êxito depende apenas dele.
No entanto, trata-se de um novo tipo de sociedade de controle com base em uma ilusão de liberdade. O indivíduo se sente livre, mas todos os seus passos, comportamentos e desejos são controlados por meio dos dados virtuais que ele, voluntariamente, oferece às grandes empresas e aos governos quando utiliza os produtos e serviços tecnológicos. Ao mesmo tempo, como já vimos, quem detém esses dados os usa comercial e politicamente, induzindo suas decisões em diversas instâncias. O controle da sociedade neoliberal é muito mais intenso e preciso do que o da sociedade disciplinar, que é restrito às instituições fechadas.
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