Nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), separadas pelo rio São Francisco, peças artesanais conhecidas como carrancas expressam a história e a identidade de parte da população.
As carrancas são esculturas talhadas em madeira e têm como principal característica a fisionomia que mistura traços humanos e animais. As primeiras carrancas, surgidas no final do século XIX, adornavam a proa (parte dianteira) das embarcações que percorriam o rio São Francisco. Há pelo menos duas versões para a origem dessas cabeças esculpidas. A primeira sugere que eram utilizadas como elementos decorativos para chamar a atenção da população para os barcos que se aproximavam trazendo mercadorias. A segunda versão afirma que sua função era proteger as embarcações dos perigos e dos maus espíritos dos rios, que supostamente tombavam canoas e navios.
Pode-se identificar a influência das culturas europeia, indígena e africana na construção das carrancas. A crença de proteção atribuída pelos navegantes a esse artefato pode ser relacionada à influência dos cristãos portugueses. Elementos africanos e indígenas podem ser percebidos na fisionomia das cabeças: cores fortes, como vermelho e preto, são muito utilizadas no artesanato de origem africana, e os cabelos lisos, longos e escuros se aproximam das características físicas dos indígenas brasileiros. A ideia da presença de espíritos malignos nas águas do rio também é um traço marcante nos mitos indígenas.
Hoje, as carrancas permanecem na cultura popular sob a forma de objetos artísticos de decoração. O artesanato é uma das fontes de renda da população e um modo de preservar sua identidade.
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