A publicação, em 1991, de um livro em inglês "The Production of Space" de Henri Lefebvre (publicado pela primeira vez em francês em 1974) foi tratada em alguns círculos geográficos como a descoberta do Santo Graal! Nas duas décadas anteriores, apenas alguns geógrafos "conheciam" ou tinham "ouvido falar" de um estudioso francês que havia desenvolvido uma reformulação radical da teoria marxista que colocava o espaço e não o tempo no centro de sua análise.
Henri Lefebvre, o inventor do direito à cidade. Foto: em 1971. |
No caso, o livro de Lefebvre mostrou-se um texto densamente escrito e às vezes impenetrável que inevitavelmente levou a diferentes interpretações sobre o verdadeiro significado de seu trabalho. No entanto, a influência de Lefebvre sobre a geografia social urbana não deve ser subestimada. Em particular, ele teve uma grande influência sobre o trabalho de David Harvey, indiscutivelmente o geógrafo humano mais influente no final do século XX.
Uma visão chave foi a distinção feita por Lefebvre das diferentes concepções do espaço. Por um lado, Lefebvre referiu-se a representações do espaço - as formas dominantes pelas quais as cidades são retratadas (às vezes denominados "espaço concebido"). Estes estão ligados às normas capitalistas existentes envolvendo questões como os direitos de propriedade. Por outro lado, ele observou que há espaços de representação, aqueles que envolvem os sentimentos que as pessoas tem em relação aos espaços que habitam através das interações cotidianas (às vezes denominadas "espaço percebido"). O ponto crucial é que essas duas noções de espaço estão interligadas e podem estar em conflito.
Por exemplo, a forma como um centro da cidade é retratado, exaltando suas virtudes para os compradores e o investimento interno, pode diferir das formas como os habitantes locais pensam nesse espaço. Trabalhadores com rendimentos baixos podem ter uma ideia diferente de um centro da que passou por um processo de gentrificação do que os trabalhadores bem remunerados ou turistas visitantes.
Lefebvre estava especialmente interessado nos processos que levaram à criação dessas representações dominantes do espaço e à exclusão de outras visões do espaço. Como visionário social, Lefebvre esperava que as pessoas pudessem prever novas noções de espaço. Uma vez que ele colocou o espaço no centro de sua análise, afirmava que uma mudança social radical deve envolver mais do que mudar os meios de produção, mas também novos conceitos de espaço que represente o cotidiano das pessoas.
Lefebvre foi criticado por ignorar as novas políticas culturais, mas ele inspirou vários geógrafos marxistas que examinaram mudanças recentes nas cidades (por exemplo, Neil Robert Smith e Andy Merrifield).
Tradução e adaptação: Gabriel, editor do Blog de Geografia.
Referência Bibliográfica:
Paul L Knox. Urban Social Geography: An Introduction (Livro). 6ª Edição. Ano 2010.
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