A Marinha brasileira, mesmo após a Proclamação da República, mantinha uma lamentável tradição em seu quadro disciplinar: castigar fisicamente os marinheiros com açoites de chibata. A punição era realizada no convés com a presença dos tripulantes do navio, que eram obrigados a acompanhar o castigo. Apesar de não ser dirigida legalmente aos marinheiros negros, a punição normalmente recaía sobre esse grupo, apresentando, além de uma atitude arbitrária e arcaica, um exercício de preconceito.
Em 1910, após um marujo negro chamado Marcelino desmaiar enquanto era fustigado, os marinheiros do navio Minas Gerais, chefiados pelo negro João Cândido, revoltaram-se e tomaram a embarcação, chegando a matar alguns de seus oficiais. A ação foi repetida em outros navios de guerra localizados na capital. Os marinheiros, dispostos a colocar um fim nos maus-tratos e obter anistia em virtude da revolta, ameaçaram o Rio de Janeiro com os canhões da esquadra. Pressionado, o Governo Federal, chefiado pelo presidente Hermes da Fonseca, atendeu aos pedidos dos marinheiros.
A entusiasmada festa dos revoltosos teve duração curta. Após alguns dias da anistia governamental, novas rebeliões ocorreram dentro da Marinha, porém, sem os importantes instrumentos de guerra da primeira revolta. A reação do governo veio avassaladora, com a prisão dos envolvidos em todos os episódios, inclusive de João Cândido. Os presos foram vítimas de todo tipo de violência na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, e muitos foram enviados para a Amazônia, entre presos comuns, para morrerem em trabalhos forçados na região.
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