UFPR 2013 - No artigo “Velha praga”, publicado em 1914, Monteiro Lobato apresenta uma imagem negativa do caipira, que é reforçada no artigo “Urupês”, que dá nome ao livro:
“Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças. À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele refugindo em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a pica-pau e o isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se. [...] Acampam.
Em três dias uma choça, que por eufemismo chamam de casa, brota da terra como um urupê. Tiram tudo do lugar, os esteios, os caibros, as ripas, os barrotes, o cipó que os liga, o barro das paredes e a palha do teto. Tão íntima é a comunhão dessas palhoças com a terra local, que dariam ideia de coisa nascida do chão por obra espontânea da natureza – se a natureza fosse capaz de criar coisas tão feias.
Barreada a casa, pendurado o santo, está lavrada a sentença de morte daquela paragem.”
(LOBATO, Monteiro. Urupês. Obras Completas de Monteiro Lobato. Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1948.)
A respeito da relação entre os contos e os artigos que compõem o livro, é correto afirmar:
a) Os contos de Urupês desenvolvem ficcionalmente os temas dos artigos; as personagens centrais são agregados que exaurem a terra até o limite e depois a abandonam. É o caso, por exemplo, de “Um suplício moderno”, em que se apresenta a rotina do caboclo e de sua família.
b) Os caipiras de “A vingança da peroba” não são agregados, mas proprietários de terras. A oposição entre as duas famílias nesse conto deixa clara a possibilidade do progresso à custa do trabalho com a terra, de maneira diferente daquela representada nos artigos.
c) As personagens de “O comprador de fazendas” praticam a queimada e, por isso, não conseguem tornar produtivas as terras da fazenda. Esse conto desenvolve ficcionalmente o tema dos artigos, sobretudo no que diz respeito às relações entre fazendeiros e agregados.
d) O mundo iletrado dos caipiras destoa do mundo erudito dos narradores. Serve de exemplo disso o conto “Os faroleiros”, em que, apesar da ambientação rural, aparecem referências a escritores como Shakespeare, Kipling e Ibsen.
e) O caipira de “O engraçado arrependido” é o Jeca Tatu, personagem ignorante e analfabeto que rendeu fama a Monteiro Lobato. Ao ridicularizar o caipira, Lobato depreciava sua cultura, o que fica claro nas referências que o conto faz por meio das piadas que nele se contam.
RESPOSTA:
Letra B.
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