Para Gohn (2011), os movimentos sociais devem ser entendidos como ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que motivam modificações e alterações nas diferentes formas de organização de uma população. Blumer (2017), por sua vez, corrobora o entendimento de Gohn, acrescentando que os movimentos sociais são agentes de alterações, mas não somente um produto dessas.
(GOHN, M.G. Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e contemporâneos. 9 ed. São Paulo: Loyola, 2011. BLUMER, H.; GIDDENS A. &. SUTTON W. P. Conceitos essenciais da Sociologia. 2 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2017.)
a) Discorra sobre a importância dos movimentos feministas para o Brasil atualmente e comente três importantes reivindicações ou bandeiras desses movimentos.
b) Classicamente, observam-se três elementos que um movimento social, para ser estudado, deve ter: projeto, identidade e agente opositor. Comente o que são esses três elementos e como eles se articulam dentro dos movimentos feministas.
RESPOSTA:
a) Hoje, no Brasil, o movimento feminista é de suma importância na redefinição do papel social da mulher na sociedade. Dessa maneira,
temos, por meio de denúncias a respeito das diversas formas de violência (física, simbólica, econômica, psicológica) sofridas por esse
gênero, a colaboração direta para a desconstrução de vários tipos de preconceitos (misoginia, sexismo), assédios e intolerância que
circundam a condição da mulher na sociedade atual. Consequentemente, suas bandeiras, como a isonomia salarial, a luta contra o
feminicídio, a denúncia de um machismo relacionado com fatores históricos como o patriarcado, a maior inserção na esfera política
legislativa e executiva, o direito ao aborto, dentre outras demandas, colaboram diretamente para a construção de uma sociedade mais
democrática.
b) O projeto corresponde à forma de atuação do movimento, seus anseios, como conquistar seus objetivos, podendo ir da luta pela
mudança de alguma condição social até a permanência de direitos que possam ser vilipendiados. Já a identidade, essa é construída
pela condição a que os indivíduos estão envolvidos e submetidos (gênero e etnia, por exemplo), produzindo valores, crenças e expectativas, que levam aqueles que estão inseridos no movimento social a compartilharem uma visão de mundo criando um elo, um
vínculo entre eles. Por sua vez, o agente opositor se refere ao oponente, ao obstáculo enfrentado pelo movimento social. Presente na
dinâmica contraditória das relações sociais, o antagonismo é o motor da mobilização em torno de interesses colidentes entre os mais
variados atores sociais, como a burguesia versus operários, mulheres diante de homens e negros perante brancos (dentre outras
oposições).
No movimento feminista, o projeto é a redefinição do lugar da mulher na sociedade, via mobilização e criação de grupos de debates,
de lutas pela desconstrução de comportamentos e pela denúncia da profunda desigualdade de gênero existente, buscando produzir
uma mudança no machismo estrutural historicamente construído e amplamente arraigado nas condutas cotidianas. Quanto à
identidade presente no movimento feminista, temos a condição de gênero, em que as mulheres sofrem com a inferiorização delineada
pelo machismo. No entanto, não podemos generalizar ou universalizar essa condição, já que esse é um movimento heterogêneo,
dialogando, por exemplo, com a questão de classe (mulheres pobres e mulheres ricas) e com os elementos étnicos (mulher branca e
mulher negra). Desse modo, temos diversos matizes ideológicos orientando o movimento feminista, de mulheres punks anarquistas até
mulheres liberais, o que leva à aclamação pela sororidade para o fortalecimento das suas lutas. Nesse sentido, o agente opositor
desse movimento é o machismo incrustado no tecido social, que leva à reprodução de uma desigualdade de gênero perversamente
violenta e desumana.
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