UFU 2020 - Leia o texto abaixo. [...] a grande maioria dos homens não coloca a mulher como uma inferior; estão hoje demasiado compenetrados do ideal democrático para não reconhecer todos os seres humanos como iguais. O homem pode, pois, persuadir-se de que não existe mais hierarquia social entre os sexos e de que, grosso modo, através das diferenças, a mulher é sua igual. [...] Assim é que muitos homens afirmam quase com boa-fé que as mulheres são iguais aos homens e nada têm a reivindicar, e, ao mesmo tempo, que as mulheres nunca poderão ser iguais aos homens e que suas reivindicações são vãs. É que é difícil para o homem medir a extrema importância de discriminações sociais que parecem insignificantes de fora e cujas repercussões morais e intelectuais são tão profundas na mulher que podem parecer ter suas raízes numa natureza original.
BEAUVOIR, Simone O segundo sexo, fatos e mitos Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970, p. 20. (Adaptado)
A) Para a autora, o ideal democrático é suficiente para garantir a igualdade de condições entre os sexos? Justifique sua resposta.
B) Conforme o texto, seriam justas as reivindicações das mulheres, considerando-se as relações concretas de existência entre os sexos? Justifique sua resposta.
RESPOSTA:
A) O ideal democrático, entendido como uma pretensa igualdade formal dos cidadãos perante a lei, não é suficiente, segundo Simone de
Beauvoir, para garantir a igualdade de condições entre os sexos. Na verdade, na medida em que se estabelece como formal, sem nenhuma
obrigatoriedade de se consolidar no universo prático, o ideal democrático, enquanto discurso, serve de mascaramento às condições históricas
que são, de fato, de extrema opressão estabelecida pelo gênero masculino sobre o feminino. Desse modo, tem-se um discurso abstrato de
igualdade entre os cidadãos, ancorado em um sistema de leis abstratas que estabelecem a igualdade entre os cidadãos, mas que não
conseguem estabelecer – nem parecem desejar fazê-lo – quando se trata da relação entre homens e mulheres.
B) De acordo com o texto, as reivindicações das mulheres seriam absolutamente justas. O patriarcado se estabeleceu, estruturalmente, por meio
de uma série de estratégias que estão longe de serem vencidas por meio do simples estabelecimento de uma igualdade jurídica abstrata. O
processo educacional completamente diferente entre os gêneros, apresentando o casamento como destino final da mulher e, assim sendo,
organizando todo seu processo educacional em função desse fim, relega às mulheres o espaço do trabalho reprodutivo, doméstico, não
remunerado e não reconhecido. Os homens são educados para o sucesso econômico, para assim poderem sustentar a família. O resultado final
disso é uma mulher completamente dependente do homem para a subsistência, realizando tarefas absolutamente fundamentais para o
funcionamento geral da família, mas que não têm nenhum reconhecimento em termos de status e não produzem emancipação. Sem romper
com tal estrutura, o que não é possível simplesmente a partir de princípios normativos formais, a condição de inferioridade histórica do
gênero feminino não pode ser suplantada.
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