Carl Ritter nasceu em Quedlinburg, em 7 de agosto de 1779,
e morreu em Berlim, em 28 de setembro de 1858. É considerado,
juntamente com Alexander von Humboldt, um dos fundadores da
Geografia moderna. Pertenceu a uma família burguesa de funcionários intelectuais. Sua mãe era filha de tecelão. Apesar dessa origem social, como será visto, Ritter aproxima-se e trabalha com
a aristocracia, tornando-se defensor do regime monárquico. Com
a morte de seu pai, sua mãe se casa com um pastor, e o peso do
ambiente familiar na formação de Ritter pode ser avaliado pela
profunda influência religiosa em seu pensamento.
A formação escolar de Ritter inicia-se no colégio de Schnepfenthal. Em 1796, ingressa na Universidade de Halle, onde estuda
Moral, Física, Química, Estatística e História. Em 1807, Ritter viaja
para a Suíça, onde conhece Pestalozzi. A influência desse autor
será central no pensamento ritteriano.
Ainda em 1807, retorna a Frankfurt, onde é nomeado professor
de Geografia e História do ginásio local. Nessa cidade, trava contato
pessoal, pela primeira vez, com Humboldt. Nesse momento, estuda
a filosofia grega, lendo com afinco as obras de Sócrates e Platão.
Em 1812, é nomeado professor na Universidade de Gotingen, onde ministra cursos de Botânica, Mineralogia e Geognosia.
Aproveita esse período para elaborar o material da Geografia geral
comparada (sua principal obra, de 1822), passando boa parte do
tempo na biblioteca da universidade.
Em 1815, a primeira versão dessa sua obra principal está
pronta. O primeiro volume, contendo a introdução teórico-metodológica, vem a público em 1817; o segundo sai no ano seguinte. Em
1819, Ritter retorna ao ginásio de Frankfurt e, nesse mesmo ano,
casa-se com Lili Kramer. Em 1820, torna-se professor da Escola
Militar de Berlim e, logo após, da universidade dessa cidade prussiana, onde ele será o primeiro professor da recém-criada cátedra
de Geografia, cargo que ficará vago por falta de profissionais da
área, durante alguns anos após a sua morte.
Em 1822, é editado o primeiro volume da versão definitiva
da Geografia Geral Comparada, sua principal obra, na qual Ritter
trabalhou até o fim de seus dias. Nesse mesmo ano, é nomeado
membro da Academia de Ciências da Prússia; três anos depois, chega ao ápice da carreira universitária alemã, tornando-se professor
titular da Universidade de Berlim.
O primeiro dado a se destacar na avaliação da atividade
docente de Ritter é a amplitude de seu quadro de alunos, tanto no
que tange às nacionalidades, quanto no que toca aos posicionamentos políticos. Em ambos os casos, o que impera é uma enorme diversidade. Assim, mesmo não mantendo uma linha de continuidade
de seu pensamento geográfico, alcança com seus cursos uma ampla
gama de interessados. Um exemplo interessante: Ritter contou, entre
seus alunos, com a presença de Karl Marx, que, na época, era
estudante da Universidade de Berlim.
Ritter, inspirando-se na filosofia de Schelling, considerava
as diferentes partes do mundo organismos vivos, mesmo sendo
profundamente idealista pela sua concepção geral de mundo e de
história, nas quais via a expressão da vontade divina. Ele resgata
as linhas de uma concepção materialista do mundo pela correlação
que estabelece entre a evolução humana e o meio natural. Podemos
pensar que seus cursos tiveram influências sobre K. Marx no movimento que levou o idealismo hegeliano ao materialismo histórico.
A amplitude do trabalho didático de Ritter é bem evidenciada
pela constatação de Nicolas-Obadia:
As três ideologias saídas do século XIX – o imperialismo, o
anarquismo e o comunismo – foram todas infl uenciadas em
diferentes graus por Carl Ritter, que ensina na Universidade
de Berlim por cerca de quarenta anos.
Em 1840, Ritter perde a esposa, ficando sozinho por não
ter filhos. Nesse período, sua relação com Humboldt se estreita.
As revoluções de 1848 deixam-no profundamente abalado, assim
como a renúncia, por perturbação mental, de seu amigo, o monarca
Frederico Guilherme IV. Em 1859, alguns meses depois de Humboldt,
Ritter falece em Berlim.
Carl Ritter. |
Toda a sua produção enquadra-se explicitamente no âmbito da Geografia. Nessa disciplina, destacam-se o trabalho de ordenamento das informações e as colocações normativas de método, isto é, sua produção sistematizou a Geografia, dando um caráter científico. Sua principal obra foi, sem dúvida, a Geografia geral comparada, que traz por subtítulo A ciência da Terra em suas relações com a natureza e a história do homem ou Geografia geral comparada como base para os estudos e o ensino das ciências físicas e históricas. E é também, nessa obra, que se pode encontrar a maturidade e a identidade inovadora da proposta ritteriana.
Referências:
História do pensamento geográfico. V. único / Inês Aguiar de Freitas... [et al] – Rio de Janeiro: CECIERJ, 2014.
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