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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Questão de Literatura - UNICAMP 2014 - Crianças Ladronas

UNICAMP 2014 - 
Crianças Ladronas 
Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais legítimas aspirações da população baiana, tem trazido notícias sobre a atividade criminosa dos Capitães da Areia, nome pelo qual é conhecido o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe. 
(Jorge Amado, Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 9.) 

O Sem-Pernas já tinha mesmo (certo dia em que penetrara num parque de diversões armado no Passeio Público) chegado a comprar entrada para um [carrossel], mas o guarda o expulsou do recinto porque ele estava vestido de farrapos. Depois o bilheteiro não quis lhe devolver o bilhete da entrada, o que fez com que o Sem-Pernas metesse as mãos na gaveta da bilheteria, que estava aberta, abafasse o troco, e tivesse que desaparecer do Passeio Público de uma maneira muito rápida, enquanto em todo o parque se ouviam os gritos de: “Ladrão!, ladrão!” Houve uma tremenda confusão enquanto o Sem-Pernas descia muito calmamente a Gamboa de Cima, levando nos bolsos pelo menos cinco vezes o que tinha pago pela entrada. Mas o Sem-Pernas preferiria, sem dúvida, ter rodado no carrossel (...). 
(Idem, p. 63.) 

a) O primeiro excerto é representativo do conjunto de textos jornalísticos que iniciam Capitães da Areia. Que voz social eles expressam? 
b) O narrador, no segundo trecho, adere a um ponto de vista social que caracteriza a ficção de Jorge Amado. Que ponto de vista é esse?

RESPOSTA:
a) Os textos jornalísticos inseridos no romance expressam, no universo social da obra, a voz da classe que mantém o poder: a burguesia. Nesses relatos, evidenciam-se a discriminação e a tendência de reprimir impiedosamente os excluídos sociais. 

b) Capitães da Areia denuncia a exclusão social do menor das classes baixas. Assume o ponto de vista dos marginalizados sociais. Representa-se, no fragmento transcrito, a injustiça praticada contra o menino de rua Sem-Pernas, numa situação em que a defesa que lhe resta é a de roubar, sem realizar o seu sonho: andar no carrossel. Na vasta obra de Jorge Amado, as personagens de baixa extração social, como meninos de rua, prostitutas, malandros, velhos marinheiros etc., são os protagonistas. Apesar de toda a discriminação que os envolve, não deixam de ter visão lírica da vida e consciência social. 

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