Você sabe quanto eu, sinceramente, detesto o tráfico de escravos, o quanto acredito ser ele prejudicial ao país, o quanto desejo sua total cessão, embora isso não possa ser feito imediatamente. As pessoas não estão preparadas para isso, e até que seja feito, colocaria em risco a existência do governo, se tentarmos fazê-lo repentinamente.
Correspondência de José Bonifácio ao enviado britânico Henry Chamberlain, 1823. Citada em: MAXWELL, Kenneth. Por que o Brasil foi diferente? O contexto da independência. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.) Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. São Paulo: Editor Senac, 2000, p. 192 (adaptado).
A emancipação política do Brasil não significou uma ruptura total com a ordem socioeconômica anterior, o que pode ser demonstrado pela permanência da escravidão. A respeito da questão escravista no I Reinado:
A) Apresente duas razões pelas quais, de acordo com José Bonifácio, o fim do tráfico de escravos ameaçaria a própria existência do governo.
B) Caracterize a política inglesa em relação ao tráfico de escravos no Brasil.
RESPOSTA:
A)
Segundo José Bonifácio, o fim do tráfico de escravos significaria uma ameaça à existência
do governo porque
- Geraria uma crise econômica decorrente da diminuição da mão de obra disponível, considerada indispensável para manter a estrutura produtiva do país;
- Contrariava frontalmente os interesses das elites brasileiras que davam suporte à recém criada Monarquia;
- A sociedade não estaria preparada para o fim da escravidão, por considerar que os ex-escravos não estariam preparados para viver em sociedade na condição de homens livres, ou seja, na concepção de José Bonifácio, era necessário “civilizá-los” primeiro.
B)
A política inglesa contra o tráfico de escravos já existia desde o início do século XIX,
sobretudo a partir da vinda da corte portuguesa para o Brasil. Tal política se justificava
pelo interesse inglês na ocupação e exploração de territórios na África, mantendo a mão
de obra no local. Com o fim do tráfico os ingleses esperavam, também, desestruturar a
produção brasileira de açúcar, minando a concorrência com aquele produzido nas
colônias antilhanas sob domínio da Inglaterra. Nesta perspectiva, o fim do tráfico levaria à
substituição gradual do trabalho escravo pelo trabalho livre, ampliando também o
mercado consumidor para os produtos ingleses. Pode-se considerar, também, as
convicções liberais e humanitárias dos ingleses que passaram à considerar o tráfico e a
escravidão inadmissíveis. Com a emancipação política do Brasil, na condição de
mediadora desse processo, a Inglaterra intensificou as pressões ao fim do tráfico e criou
uma série de medidas restritivas ao mesmo, a exemplo da Lei Bill Aberdeen (1845).
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