No Fórum Mundial em Davos (2020), a secretária executiva da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), Alicia Bárcena, afirmou que "a desigualdade é a causa estrutural da agitação social na América Latina e no Caribe".
Disponível em: CEPAL, 2019. http://repositorio.cepal.org Acesso em: 28 fev. 2020
A) Descreva as principais causas históricas da desigualdade social e econômica na região (América Latina e Caribe).
B) Apresente dois países da região (América Latina e Caribe) onde a crise econômica e social tem se agravado na última década, identificando a principal causa desse processo.
RESPOSTA:
A) A América Latina apresenta uma das maiores desigualdades socioeconômicas do planeta. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2019,
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apontou que os 10% mais ricos concentram 37% da renda, enquanto os
40% mais pobres ficam com 13%. Tal cenário pode ser considerado uma construção histórica. Entre os fatores que colaboraram para o
desenvolvimento desse cenário destacam-se: a colonização no modelo de exploração, que se baseou na espoliação dos recursos naturais e
possibilitou a formação de grupos privilegiados, como ocorreu no Brasil com os sesmeiro; outro elemento importante foi a limitação da
democratização de acesso à terra, como a falta de uma política eficiente de reforma agrária, o que colaborou para a perpetuação de grupos
aristocráticos, que concentram os poderes políticos e econômicos; os resquícios de um modelo escravocrata e de sociedade patriarcal, que
ainda reverbera, atestado pelos indicadores de renda quando considerada cor da pele, o gênero e mesmo etnias; mais recentemente, a rápida
urbanização após a Segunda Guerra Mundial, que se caracterizou como macrocefálica (concentrada em poucos centros urbanos) também
dificultou a criação das infraestruturas de acesso a direitos básicos, como saneamento, educação e segurança; as reformas neoliberais, que se
aprofundaram na década de 1980, colaboraram para desregulamentar os mercados, o que relativamente reduziu os ganhos dos trabalhadores e
restringiu o acesso a direitos básicos; a perpetuação de sistemas tributários assentados em cobranças indiretas (sobre o consumo) e a falta ou
mesmo a fragilidade de sistemas de gerenciamento de receitas e ganhos, os quais contribuem para manutenção e até aprofundamento das
desigualdades.
B) Dois países latino-americanos que viveram a ampliação das desigualdades socioeconômicas nas últimas décadas foram: Venezuela e Chile.
Na Venezuela, o agravamento da desigualdade acompanhou o acentuado declínio dos preços do petróleo, em especial entre 2014 e 2016,
somado a escalada das sanções impostas ao país nos últimos anos, em especial pelos EUA. Muito dependente da cadeia do petróleo (que em
2018 representou 25% do PIB e 90% das receitas com exportações), os investimentos públicos e os subsídios aos diferentes setores da
economia foram muito reduzidos. Ao mesmo tempo, a moeda nacional se desvalorizou, o que dificultou sobremaneira a complementação da
economia por meio das importações e estrangulou o poder de compra dos trabalhadores. Além disso o aumento do desemprego e da
instabilidade política acentuaram tal quadro.
No Chile, apesar do crescimento econômico, as medidas neoliberais aplicadas intensamente a partir da década de 1980, implantadas durante a
ditadura de Augusto Pinochet, com destaque para privatizações, desregulamentação de mercados e a limitação de direitos, gradualmente
aumentaram a desigualdade socioeconômica. O desmonte da seguridade social, com a privatização dos sistemas de saúde e de pensões,
limitou consideravelmente a renda da parcela idosa e reduziram o acesso a tratamentos, mesmo os mais básicos. A diminuição dos
investimentos em educação, especialmente em nível superior, e sua transferência para a iniciativa privada, dificultaram a qualificação da mão
de obra e inibiram o ganho de remuneração de grande parte dos trabalhadores.
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