Simulações sugerem que o Sol está entrando em um período prolongado de baixa atividade, como o que ocorreu há alguns séculos.
Novas observações apontam que o Sol entrou em uma transição de ciclos. A evidência foi o surgimento, no início de abril, da primeira região ativa diretamente vinculada ao novo ciclo solar. Simulações sugerem que ele será marcado por uma atividade ainda mais fraca que a dos ciclos anteriores, períodos que já vinham apresentando queda de intensidade.
"Os modelos apontam para um mínimo prolongado semelhante ao que aconteceu alguns séculos atrás, quando não houve atividade", afirma o físico Jean Pierre Raulin, pesquisador de radioastronomia e explosões solares da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Raulin se refere ao chamado Mínimo de Maunder, ápice do fenômeno que durou de 1630 a 1710.
O físico é membro do CRAAM, Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica Mackenzie, grupo que realiza pesquisas solares desde 1960 e se tornou referência na área. Para a observação inédita que realizaram da primeira região ativa do chamado ciclo solar 25, contaram com instrumentos de observatórios e instituições parceiras nos Andes argentinos.
No geral, o Sol esteve calmo durante todo o final da Idade Média e início da Era Moderna, entre os séculos 16 e 19. Foi um período marcado por acentuada redução na atividade solar, com o registro de outros dois mínimos além do de Maunder.
Ficou conhecido desde a década de 1930 como a Pequena Era do Gelo. "Na época houve registros de temperaturas muito baixas, não só na Europa, como em outros lugares do Hemisfério Norte e também do Sul", explica Raulin. Apesar de, supostamente, haver uma profunda influência do comportamento do Sol no clima da Terra, pouco sabemos a respeito.
Sol e seus mistérios
Nossa estrela é como um gigantesco ímã incandescente. A cada 11 anos, em média, processos que ocorrem em seu interior fazem os polos se inverterem, provocando naturalmente períodos mais e menos intensos.
Nos máximos, ocorre maior quantidade de regiões ativas, manchas e, consequentemente, explosões, que podem provocar tempestades solares na Terra. Nos mínimos, quase não há manchas nem erupções.
Ao longo dos últimos quatro séculos, os astrônomos têm usado o estudo das manchas solares para tentar compreender melhor os mecanismos que regem a atividade solar. A quantidade de carbono-14 nos anéis das árvores também serve como medidor, muito útil para estudar períodos anteriores às primeiras observações científicas do Sol.
Calmaria solar
Segundo Jean Pierre Raulin, dois indícios sugerem que o fenômeno está atrelado ao novo ciclo: a polaridade magnética da região, registrada no hemisfério sul do Sol, segue a nova orientação dos polos e a área foi observada bem abaixo da linha do Equador solar, sinal de que surgiu há pouco — com o tempo, elas migram e se concentram em latitudes equatoriais.
Mas, por se tratar de um período de transição, as regiões ativas dos dois ciclos ainda devem se misturar por um tempo. O pesquisador do CRAAM explica que a intensidade da atividade solar tem decaído copiosamente ao longo dos últimos quatro ciclos: enquanto o máximo do ciclo 21 contou com 220 manchas, o do 24 teve apenas 80.
Os especialistas ainda não estão certos se a tendência irá continuar ou se intensificar nos próximos ciclos, apesar de alguns modelos apontarem que sim. Caso isso ocorra, podemos entrar em um período de mínimo prolongado, ou uma nova Pequena Era do Gelo.
Será uma oportunidade excepcional para compreender os processos que regem o funcionamento das estrelas, o comportamento do Sol e como isso influencia no clima do nosso planeta.
"Hoje em dia, com toda essa nova instrumentação, poderíamos achar uma razão plausível para o mínimo prolongado", diz Raulin. Mas que fique claro que o Sol não vai nos salvar da ameaça inexorável das mudanças climáticas: é provável que o efeito estufa causado pelo homem anule qualquer possível resfriamento. Estamos por conta própria.
Fonte: Revista Galileu.
Fonte: Revista Galileu.
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