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domingo, 13 de maio de 2018

Douglas Belchior: 'Há um esforço da elite para apagar a memória da escravidão'

Movimento negro luta para ressignificar o 13 de Maio. Passados 130 anos da abolição, passado ainda marca a sociedade brasileira.

'Há uma bola de ferro amarrada no pé da história que mantém o Brasil marcado pelas relações próprias da escravidão', diz Douglas.
São Paulo – Mesmo tendo três séculos e meio de escravidão registrado em sua história, ainda falta ao Brasil em geral o reconhecimento do que foi o período e suas consequências. De acordo com o professor, ativista e fundador da Uneafro, Douglas Belchior, negar o significado e o peso de sua história é um movimento proposital por parte da elite branca. "Sempre houve um esforço das elites para que se apagasse a memória da escravidão", afirma à RBA.

Mesmo com essa adversidade, Douglas frisa que o movimento negro conseguiu ressignificar o 13 de Maio, Dia da Abolição da Escravatura, que completa 130 anos hoje. A figura de Princesa Isabel deu lugar aos ícones da resistência negra Zumbi e Dandara, enquanto a data deixou de ser comemorativa e passou a ser de mobilização e de luta.

"O 13 de maio é uma data marcada por protesto, não celebração. Isso foi construído pelo movimento negro nos últimos 40 anos. Até a década de 70, o dia era de comemoração ao ato da Princesa Isabel. Mas, desde a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) e da opção política de fortalecer o dia 20 de novembro (da Consciência Negra), o 13 de Maio é ressignificado, como um protesto e denúncia ao racismo. A figura 'bondosa' da princesa também é ultrapassada, o movimento conseguiu dar a imagem correta à ela (em relação à emancipação da população negra): a insignificância", diz. 

Segundo o ativista, a politização da data é importante para que o passado não seja esquecido. Ele acrescenta que o anseio da elite por apagar seu próprio passado se dá pelo medo de um "acerto de contas". "O principal sentimento que os brancos têm com o negro é o medo, não é a raiva. É o medo de essa população resgatar a memória do que foi feita com ela, desse sofrimento histórico e secular. Os brancos têm medo da verdade histórica e do acerto de contas, por isso, sistematicamente tentam apagar a nossa memória e impedem a gente de ter acesso à educação", explica.

O projeto Escola Sem Partido é uma dessas tentativas de apagar a escravidão dos registros históricos e manter o domínio e privilégios da população branca, ressalta Douglas. Para ele, a ideia é uma reação "maldosa e desonesta" para responder à tomada de consciência do povo negro. "Ela se inscreve no bojo dessa estratégia secular dos racistas", critica.

Mesmo com a abolição assinada em 1888, negros e negras do Brasil ainda sofrem diariamente com a herança do período. O professor é direto: "é uma bola de ferro amarrada no pé da história que mantém o Brasil marcado pelas relações próprias da escravidão".

A desigualdade permanente, a opressão e a violência contra o povo negro, além da exclusão de sistemas básicos e do mercado de trabalho, são resultados do período escravagista apontado por Douglas Belchior. Por outro lado, ele lembra que a história não é só sofrimento, mas também é de conquistas.

"Resistir e superar as adversidades são uma marca da história do povo negro no Brasil. Foram 400 anos de escravidão e, depois, um projeto de nação que excluía a população negra. Mesmo assim, nos superamos e permanecemos. Havia um plano de extermínio que não deu certo. A população negra sempre conseguiu sobreviver, essa é a nossa marca. Nossa história não é só de sofrimento e morte é de superação e vitórias", conclui.

Fonte: Rede Brasil Atual.

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