“Se o Brasil não vai à guerra, a guerra vem ao Brasil.” Foi o que aconteceu em 1942, quando navios brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães em nosso próprio litoral. Só então o Brasil realmente entraria de fato na guerra, mas esta história começa bem antes.
A Segunda Guerra Mundial se iniciou em 1939 e durou cerca de seis anos. De um lado, estavam os países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. Por outro lado, os Aliados incluíam Inglaterra, França, Rússia e os Estados Unidos, que entraram no conflito após o bombardeio japonês à base militar de Pearl Harbor. O Brasil estava em uma situação delicada, pois Estados Unidos e Alemanha eram seus dois maiores parceiros econômicos.
É verdade que o governo de Getúlio Vargas tinha simpatias pelo regime alemão, mas o marketing norte-americano era muito mais eficaz. A política da boa vizinhança exaltava a cultura brasileira, incentivava celebridades do cinema a visitar e trabalhar no Brasil, o que gerava forte empatia popular. Além disso, o dinheiro falou mais alto. Os norte-americanos financiaram a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, e o Brasil, em troca, permitiu a instalação de uma base militar no Rio Grande do Norte.
Em janeiro de 1942, o chanceler brasileiro Oswaldo Aranha anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Alemanha. A partir daí, vários navios brasileiros que levavam mercadorias para os Estados Unidos foram atacados, com base em informações de uma rede de espiões infiltrada no Brasil. Um sentimento anti-nazista começou a tomar conta dos brasileiros, reforçado pelo sucesso do filme “O Grande Ditador”, no qual Chaplin faz uma sátira impagável a Hitler.
Mas o pior ainda estava por vir. Em 15 de agosto, às 19 horas, os passageiros do navio brasileiro Baependi foram surpreendidos em pleno jantar por dois torpedos disparados pelo submarino alemão U-507. Das 306 pessoas a bordo, apenas 36 sobreviveram. A maioria ficou em um pequeno barco à deriva na escuridão. Duas horas depois, eles avistaram um clarão no horizonte. Era o navio Araraquara, também destruído pelo submarino alemão, com mais 131 mortos. E antes que o dia amanhecesse, o U-507 faria mais 150 vítimas ao afundar o navio Aníbal Benévolo. No dia seguinte, mais dois navios foram atacados.
A reação foi quase imediata. Estudantes organizaram passeatas, a população saiu às ruas e o Brasil declarou guerra aos países do Eixo.
Uma provocação da época afirmava: “É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil mandar soldados para a guerra.”
Soldado Francisco de Paula carregando um obus 105mm com os dizeres "A cobra está fumando...". |
Os alemães não acreditavam no poder militar brasileiro, mas a cobra fumou.
Em setembro de 1944, 25 mil pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) se juntaram aos Aliados na Itália. Eles venceram importantes batalhas e capturaram mais de 20 mil soldados inimigos.
Com a vitória dos Aliados na guerra, a população brasileira pressionou Getúlio Vargas, e o Brasil conseguiu a volta das eleições diretas para presidente e para o poder legislativo. Um golpe militar tirou Vargas do poder, mas ele, político experiente, negociou uma renúncia e voltou eleito senador por dois estados e deputado por sete, graças a uma inusitada legislação eleitoral. Em breve, estaria de volta à presidência pelo voto popular.
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