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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Velhas florestas de agora (poema de Fernando Sylvan)

VELHAS FLORESTAS DE AGORA
Fernando Sylvan

Eu tinha uma floresta
quando era pequenino.
Ela era na montanha
no alto lá dos altos.
As florestas serviam
para todos brincarmos.
Espécie de poesia
de árvores e bichos:

o perfume do sândalo
a paz da casuarina
a flor do cafeeiro
a altura dos coqueiros
a cor da bananeira
o estilo dos bambus
os laços dos cipós
o riso dos macacos
o salto dos veados
o canto dos loricos.
As florestas serviam
para todos brincarmos.

Mas não era verdade.
Ilusão de meninos.
As florestas serviam
desde séculos e séculos
como templo sagrado
de rezar liberdade.

Nossos pais e avós
nas florestas secretas
iam gritar sua revolta
e rezar liberdade.
E escreviam no chão
e escreviam nas pedras

e escreviam nas árvores
contra o seu opressor
as palavras precisas
de rezar liberdade.
E ainda servem agora
a heróis guerrilheiros
como templo sagrado
de rezar liberdade!

Fonte: livro "Enterrem meu coração no Ramelau – Poesia de Timor-Leste".

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Oh! Liberdade! (poema de Xanana Gusmão)

Oh! Liberdade!
Xanana Gusmão

Se eu pudesse pelas frias manhãs
acordar tiritando
fustigado pela ventania
que me abre a cortina do céu
e ver, do cimo dos meus montes,
o quadro roxo
de um perturbado nascer do sol
a leste de Timor

Se eu pudesse
pelos tórridos sóis
cavalgar embevecido
de encontro a mim mesmo
nas serenas planícies do capim
e sentir o cheiro de animais
bebendo das nascentes
que murmurariam no ar
lendas de Timor

Se eu pudesse
pelas tardes de calma
sentir o cansaço
da natureza sensual
espreguiçando-se no seu suor
e ouvir contar as canseiras
sob os risos
das crianças nuas e descalças
de todo o Timor

Se eu pudesse
ao entardecer das ondas
caminhar pela areia
entregue a mim mesmo
no enlevo molhado da brisa
e tocar a imensidão do mar
num sopro da alma
que permita meditar o futuro
da ilha de Timor

Se eu pudesse
ao cantar dos grilos
falar para a lua
pelas janelas da noite
e contar-lhe romances do povo
a união inviolável dos corpos
para criar filhos
e ensinar-lhes a crescer e a amar
a Pátria Timor!

Com Ruy Cinatti, em Timor (poema de Albano Martins)

Com Ruy Cinatti, em Timor

Dili-Timor, dor sempre esquecida,
tão presente dor.
Ruy Cinatti

Talvez Ruy Cinatti
esteja agora em Dili
com um ramo
de flores
na mão - um ramo
de lágrimas. Os mortos
nunca repousam quando
os que amaram sofrem,
choram, feridos
na medula.

Um dia, o sol
virá mais cedo para enxugar
as lágrimas
e o luto, e do chão
empapado de sangue brotará
uma espiga vermelha. A espiga
da alegria.

Albano Martins
(in «Cástalia e Outros Poemas»,
Campo das Letras, 2001)


Menino de Timor (poema de Jorge Barros Duarte)

Menino de Timor
Jorge Barros Duarte

Menino de Timor, estás triste?!...
Porquê?!... - Não tenho com quem brincar!
Nem com quem!... Já nem posso falar!...
A minha terra correste e viste

Como só há silêncio e tristeza!...
Assim é na palhota que habito!...
Já nem oiço na várzea um só grito!...
Só vejo gente que chora e reza!...

Que saudade que eu tenho dos jogos
Da minha aldeia agora deserta!...
O "La'o-rai", que a memória esperta,
Co'as pocinhas na terra, ora a fogos

Mil sujeita!... O "caleic" também era
jogo apreciado da pequenada:
"Hana-caleic"!... de tudo já nada
Resta agora!... Só vejo essa fera

De garra adunca e dente aguçado
A rugir tão feroz que ninguém
A doma já, pois tem medo não tem
De um povo à fome, sem horta ou gado!...

Menino, sou, mas sofro já tanto
Como se fora de muita idade
E co'a alma cheia só de maldade!...
Jesus, tem pena deste meu pranto!...

Jesus Menino, dá-me alegria!...
Se na minha terra é tudo tão triste!...
Gente tão má neste mundo existe?!...
Coisas assim tão ruins?!... Não sabia!...

Reflexos de Timor (poema de Crisódio T. Araújo)

Reflexos de Timor

Reflexos da terra há muito deixada
Por tantos e tantos chorada...
Reflexos de um mar sedento de Paz
Corado do sangue de todo o que jaz...
Reflexos de um grito do Monte
Cansado de tanto sofrer...

Reflexos, Reflexos de Timor...

Reflexos de quem clama a Justiça
De um Mundo sem Lei nem Amor!
Reflexos de um Povo que grita
Liberdade, Liberdade, Viva Timor!

Crisódio T. Araújo (Poeta Timorense)

Poema Ancestral (poema de Crisódio T. Araújo)

Poema Ancestral
Crisódio T. Araújo

Lembra os dias antigos
Em que cantavas a pureza
Na nudez dos teus passos e gestos
Ou dançavas na inocente vaidade
Ao som dos «babadok».
Relembra as trevas da tua inquietação
E o silêncio das tuas expectativas,
As chuvas, as memórias heróicas,
Os milagres telúricos,
Os fantasmas e os temores.
Tenta lembrar a herança milenar dos teus avós
Traduzida em sabedoria
E verdade de todos.
Recorda a festa das colheitas,
A harmonia dos teus Ritos,
A lição antiga da liberdade,
Filha da natureza.
Recorda a tua fé guerreira,
A lealdade,
E a ternura do teu lar sem limites,
Nos caminhos do inesperado
Ou no improviso da partilha definitiva.
Lembra pela última vez
Que a história da tua ancestralidade
É a história da tua Terra Mãe...

Crisódio T. Araújo (1964 - 2021) foi um poeta, filósofo e político timorense.


Questão de Linguagens - O poema “Erro de português”, de Oswald de Andrade, faz uma releitura do trecho da Carta de Caminha. O que muda no poema?

O poema “Erro de português”, de Oswald de Andrade, faz uma releitura do trecho da Carta de Caminha. O que muda no poema?

RESPOSTA:
Muda a perspectiva: o olhar de Oswald de Andrade não é o do colonizador, mas o do brasileiro que avalia o que poderia ter ocorrido na história do Brasil se, em vez de os portugueses vestirem os indígenas, como indica a Carta de Caminha, os indígenas tivessem despido os portugueses.

Questão de Linguagens - Em 1924, Mário e Oswald de Andrade, juntamente com outros artistas modernistas, empreendem uma viagem

Em 1924, Mário e Oswald de Andrade, juntamente com outros artistas modernistas, empreendem uma viagem às cidades históricas de Minas Gerais. Lá, têm contato com uma paisagem e uma arquitetura que evocam o passado colonial e conhecem um Brasil diverso de suas referências paulistanas. A partir de então, mudam o entendimento sobre as raízes da nacionalidade e sobre o que seria uma arte genuinamente brasileira. 
Qual é a importância desse processo de deslocamento da própria origem para a construção de uma identidade nacional?

RESPOSTA:
Se os artistas fi cassem restritos à cidade de São Paulo, os modernistas construiriam uma identidade artística paulistana, acreditando-a nacional, e não uma identidade nacional que consideraria de fato a multiplicidade cultural do Brasil.

Questão de Linguagens - O Modernismo começa oficialmente com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Motivados por movimentos

O Modernismo começa oficialmente com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Motivados por movimentos artísticos que agitavam a Europa naquele início do século XX, os modernistas brasileiros vão propor uma ruptura com as tradições artísticas estrangeiras e a criação de uma arte genuinamente brasileira. Em uma carta enviada ao poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1924, Mário de Andrade escreve: Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que por isso até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacri cio é grandioso, é sublime. 
ANDRADE, M. de apud FROTA, L. C. Carlos e Mário: correspondência completa entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 1988. p. 54. 

  • Nesse trecho, Mário de Andrade revisita, mais de meio século depois, a proposta de José de Alencar quanto ao papel de escritores e artistas para o processo de construção de uma identidade nacional. 
Considerando a proposta modernista, qual é a necessidade desse novo comprometimento com a identidade e a cultura nacional?

RESPOSTA:
Como o Modernismo visa romper com algumas visões anteriores, ao propor outras abordagens in uenciadas por novos movimentos estéticos, há uma necessidade de atualizar a re exão sobre a identidade do país.

Questão de Linguagens - De acordo com o prefácio, qual seria a importância da literatura para esse processo de construção de uma identidade nacional?

De acordo com o prefácio, qual seria a importância da literatura para esse processo de construção de uma identidade nacional?

RESPOSTA:
Escritores e artistas seriam os responsáveis por criar e registrar o que seria a identidade brasileira por meio da língua portuguesa