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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Velhas florestas de agora (poema de Fernando Sylvan)

VELHAS FLORESTAS DE AGORA
Fernando Sylvan

Eu tinha uma floresta
quando era pequenino.
Ela era na montanha
no alto lá dos altos.
As florestas serviam
para todos brincarmos.
Espécie de poesia
de árvores e bichos:

o perfume do sândalo
a paz da casuarina
a flor do cafeeiro
a altura dos coqueiros
a cor da bananeira
o estilo dos bambus
os laços dos cipós
o riso dos macacos
o salto dos veados
o canto dos loricos.
As florestas serviam
para todos brincarmos.

Mas não era verdade.
Ilusão de meninos.
As florestas serviam
desde séculos e séculos
como templo sagrado
de rezar liberdade.

Nossos pais e avós
nas florestas secretas
iam gritar sua revolta
e rezar liberdade.
E escreviam no chão
e escreviam nas pedras

e escreviam nas árvores
contra o seu opressor
as palavras precisas
de rezar liberdade.
E ainda servem agora
a heróis guerrilheiros
como templo sagrado
de rezar liberdade!

Fonte: livro "Enterrem meu coração no Ramelau – Poesia de Timor-Leste".

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