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domingo, 2 de fevereiro de 2020

Coronavírus: localização geográfica é vantagem para o Brasil

Dos 10 mil casos já registrados em todo o mundo, 99% estão concentrados na China, que isolou as áreas onde a epidemia faz mais vítimas

Aline Chalet*, do R7
Brasil não tem voos diretos vindos da China. FEPESIL/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO.
A epidemia de um novo tipo de coronavírus na China aumenta suas proporções a cada dia e tem causado incertezas na população. No entanto, o Brasil tem algumas vantagens em relação a outros países. 

O médico Luís Fernando Correia, clínico geral e certificado no MIT - Sloan School of Management, reafirma o que dizem as autoridades: não é necessário pânico. “São quase 10 mil casos na China, no restante do mundo não são nem 100.”

Segundo o médico, a grande vantagem do Brasil frente aos outros países é a localização geográficas.

“Estamos do outro lado do mundo. Talvez a epidemia esteja contida antes de realmente ser um problema aqui.”

Por outro lado, Correia enfatiza que é quase certo que haverá casos no Brasil. “O mundo está globalizado. A dúvida não é ‘se’ teremos casos, é ‘quando’ teremos.”

Outro fator que contribui para atrasar a chegada do novo coronavírus em terras brasileiras é o fato de que não existem voos diretos da China para o país.

“Todos passam por escala, então os passageiros vão passar por uma triagem antes de chegar aqui, o que não vai evitar completamente a chegada do vírus, já que temos transmissores assintomáticos.”

Antes da epidemia, entravam no Brasil, em média, 250 pessoas vindas da China todos os dias, segundo números da Polícia Federal.

Para efeito de comparação, nos Estados Unidos (onde são 6 os casos de coronavírus), entravam diariamente uma média de 8.319 pessoas procedentes da China, de acordo com o Escritório Nacional de Viagens e Turismo norte-americano.

Recentemente, grandes companhias aéreas dos EUA, como American Airlines, United e Delta Air Lines, suspenderam temporariamente todos os voos entre os Estados Unidos e a China continental.

Correia explica que essa é uma medida que possui um efeito de proteção dos funcionários e tranquilização da população, mas que não é tão eficaz em relação à saúde pública.

“Estima-se que 5 milhões de pessoas tenham saído Hubei [província onde o surto teve início] antes do bloqueio começar. Não se sabe quantas dessas pessoas estavam infectadas.”

Apesar de classificada como emergência internacional pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o novo coronavírus não é motivo para pânico.

A professora Deisy Ventura, coordenadora do doutorado em Saúde Global e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), afirma que essa é a sexta emergência internacional declarada pela organização.


A primeira foi entre 2009 e 2010 devido a epidemia de H1N1. A segunda foi declarada em 2014 e ainda está em vigor, devido ao polivírus, principalmente em regiões de conflitos armados.

A terceira foi entre 2014 e 2015 devido ao ebola, na África ocidental. A quarta ocorreu em 2016 e teve como epicentro o próprio Brasil, devido ao vírus zika. E a quinta teve como motivo novamente o ebola, desta vez na República Democrática do Congo, e foi declarada em 2019.

Segundo Deisy, o que faz com que uma situação seja considerada emergência internacional “é o risco de propagação internacional da ameaça, além da necessidade de coordenação intergovernamental da resposta”.

Para Correia, a declaração da OMS possui um efeito burocrático que permite a liberação de verba para a contenção da epidemia e faz com que as recomendações e protocolos determinados pela organização possuam maior peso diplomático. Por outro lado, cria uma tensão e pânico desnecessários, que podem ser prejudiciais.

A professora da USP explica que o SUS (Sistema Único de Saúde), no Brasil, é um importante aliado para combater e evitar epidemias como essa.

“A detecção de uma doença não pode depender de recursos financeiros para pagar um atendimento, e ainda menos a sua prevenção e o seu tratamento.”

Ela aponta, ainda, como vantagem para o país a qualidade das universidades e institutos de pesquisa.

“Principalmente os [institutos] públicos que são capazes de participar do grande esforço científico que está sendo feito para compreender a evolução deste vírus e elaborar uma resposta adequada.”

Na visão de Correia, o SUS pode ser uma vantagem por facilitar a implementação de protocolos padronizados, porém a falta de estrutura e verba é apontada comor um desafio.

Ele enfatiza que, caso a epidemia se torne um problema de importância no país, o maior desafio do Brasil será a desigualdade de acesso aos serviços de saúde. “Você tem centros de excelência e lugares muito mal-atendidos.”

Outra vantagem apontada pelo médico é que o país teve epidemias recentes e se preparou muito bem para elas. Segundo ele, a preparação durante a Copa do Mundo para evitar a vinda de doenças também foi "muito eficiente".

“É que nem andar de bicicleta. Temos memória logística, pessoas foram treinadas, hospitais se preparam e a equipe que está trabalhando na identificação e isolamento de casos é muito qualificada.”

Ele explica que as características do vírus podem mudar e ele se tornar mais adaptado ao ser humano, o que, eventualmente, aumentaria a letalidade e transmissibilidade da doença.

Porém, no cenário atual, uma epidemia no Brasil é muito improvável, desde que as medidas de prevenção, identificação e isolamento dos casos continue acontecendo na China e ao redor do mundo. 

*Estagiária sob supervisão de Fernando Mellis.

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