UNICAMP 2001 - Em Ubirajara, tal como em Iracema e em O Guarani, José de Alencar propõe uma interpretação de Brasil em que o índio exerce um papel central.
a) Que sentido têm as sucessivas mudanças de nome do protagonista no romance?
b) Qual o papel das notas explicativas nesse romance? Do que elas tratam em sua maior parte?
c) Como o romance e suas notas tratam o ritual antropofágico, no empenho de construir uma visão do período pré-cabralino?
RESPOSTA:
a) O protagonista do romance tem, sucessivamente,
vários nomes: Jaguarê (que, segundo José de
Alencar, quer dizer “força da onça”, já que o
protagonista tinha o poder, a coragem e a ferocidade
desse animal), Ubirajara (que significa “senhor da
lança”, o lanceiro chefe da tribo araguaia) e Jurandir
(que significa “o que é trazido pelo céu”). Essas
mudanças de nome correspondem a “ritos de
passagem”, significam metamorfoses sociais do
protagonista: de grande caçador (Jaguarê) vira chefe
dos araguaias (Ubirajara). Com o nome de Jurandir,
vai à tribo inimiga dos Tocantins conquistar a amada
(Araci). E, finalmente, como Ubirajara, une a tribo
dos Araguaias com a dos Tocantins.
b) As sessenta e seis notas explicativas tratam da etimologia e do sentido dos vários nomes indígenas
(Ubirajara, Jurandir), assim como de aspectos da
história do Brasil relacionados com a cultura
aborígene. José de Alencar faz referências aos
cronistas do séc. XVI, como Gabriel Soares de
Sousa, e a autores do séc. XIX, como Gonçalves
Dias, para descrever adequadamente os ritos e os
costumes dos povos indígenas, para além do seu
aspecto meramente anedótico, pitoresco.
c) Tanto o romance como as notas do autor tratam o
ritual antropofágico como prova de heroísmo e exaltação moral do prisioneiro. É afastada a visão de mero ato canibal. Em Ubirajara, o prisioneiro da tribo
araguaia, Pojucã, guerreiro tocantim, quer a morte
gloriosa no ritual antropofágico, já que ela só é
negada aos fracos. José de Alencar afirma nas
notas: “O sacrifício humano significava uma glória
insigne reservada aos guerreiros ilustres ou varões
egrégios quando caíam prisioneiros. Para honrá-los,
os matavam no meio da festa guerreira; e comiam
sua carne que devia transmitir-lhes a pujança e o
valor do herói inimigo”.
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