UEL 2023 - Leia o texto a seguir.
O filósofo, repito, não fabrica os instrumentos necessários às necessidades correntes. Por que atribuir-lhe uma
atividade tão subalterna quando ele, na realidade, é um “artista da vida”? As outras artes, aliás, também estão
sob o seu domínio. Se é a filosofia que governa a nossa vida, deve também ela governar os acessórios da
nossa vida; o seu fim supremo, porém, é determinar em que consiste a felicidade e em guiar-nos pela via que
conduz a esse fim. A sua tarefa é distinguir os males reais dos males aparentes, é libertar os espíritos de vãs
ilusões, é instilar neles uma grandeza efetiva e reprimir as exageradas aparências derivadas de juízos fúteis,
é evitar toda e qualquer confusão entre grandeza real e presunção; é, em suma, facultar-nos o conhecimento
da natureza, inclusive da natureza da própria filosofia.
(Adaptado de: SÊNECA. Cartas a Lucílio. Tradução de: J. A. Segurado e Campos. 2.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
A Lucílio, IX, 90, 27-28. p.448-449.)
Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) foi um intelectual e político do Império Romano, notável pelos seus escritos sobre a
vida, a morte e a felicidade.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre Sêneca, discorra sobre o propósito estoico de sua filosofia.
RESPOSTA:
Sêneca conscientiza o ser humano de que a vida é efêmera e permeada de dores inevitáveis, mas também oferece, através de sua filosofia, caminhos para a salvação pessoal e para a realização da vida plena e feliz. Há duas premissas fundamentais de seu pensamento: que somos animais sociais e temos a capacidade de pensar. Isso implica que devemos conhecer o funcionamento da natureza para viver e conviver de acordo com suas determinações, e que só haverá sentido para a vida humana, individual e coletiva, quando usarmos a razão para: conhecer a natureza, para melhorarmos como indivíduos e para encontrar meios de ajudar uns aos outros. Sêneca identificou, entre as emoções humanas, aquelas que são negativas (ou destrutivas), como a ira, o medo e o ódio, e as positivas (ou construtivas), como a alegria, o amor e a justiça. Embora os maus sentimentos e as adversidades sejam inevitáveis, não podemos sucumbir diante deles, mas sim cultivar as boas emoções e buscar a paz dentro de nós, caso contrário, não seremos capazes de desfrutar o que a vida potencialmente oferece. O ser humano não deve ser apenas resiliente, mas resiliente e feliz. O propósito da filosofia de Sêneca é, mesmo diante da finitude e das adversidades inevitáveis, libertar o espírito das ilusões e emoções negativas para ter paz interior e conduzir a vida para sua realização plena e feliz.
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