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Questão de Filosofia - UEL 2023 - Leia o texto a seguir. O advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico

UEL 2023 - Leia o texto a seguir. 
O advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber de tipo racional. Da origem do mundo, de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos meteorológicos, propõem explicações livres de toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas. Nada existe que não seja natureza, physis. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou “no começo” de maneira diferente de como o faz ainda. O original e o primordial despojam-se de sua majestade e de seu mistério; têm a banalidade tranquilizadora dos fenômenos familiares. Para o pensamento mítico, a experiência cotidiana se esclarecia e adquiria sentido em relação aos atos exemplares praticados pelos deuses “na origem”. Invertem-se os termos da comparação entre os jônios. Os acontecimentos primitivos, as forças que produziram o cosmos se concebem à imagem dos fatos que se observam hoje e dependem de uma explicação análoga. Já não é o original que ilumina e transfigura o cotidiano; é o cotidiano que torna o original inteligível, fornecendo modelos para compreender como o mundo se formou e ordenou. 
(Adaptado de: VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Tradução de: Ísis Borges B. da Fonseca. 19.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2010. p.109-110.) 

Com base nesse texto e nos conhecimentos sobre a passagem do mito à filosofia, discorra sobre os modelos mítico e filosófico de compreensão do mundo. 

RESPOSTA:
Desde tempos imemoriais, o esforço para explicar as causas dos fenômenos da natureza e o sentido da própria existência despertou no imaginário humano diversos modelos de interpretação do mundo. Os modelos pretendem responder às questões que incidem em cada contexto histórico e que se modificam conforme o desenvolvimento social e a progressão das técnicas de domínio da natureza. No período mitológico, as narrativas poéticas atribuíam ao poder e à contingência da vontade dos deuses a determinação do ritmo da vida e dos eventos naturais, estabelecendo, assim, um sentido para o mundo que se revelava pela interpretação dos exemplos de conduta, de luta e de dramas vividos pelas personagens narradas nas histórias sobrenaturais. Contudo, pela observação direta e sistemática do comportamento da natureza, percebeu-se que há uma previsibilidade e uma regularidade dos eventos compatíveis à compreensão humana, o que abriu as portas para a concepção de modelos racionais e não fantasiosos sobre o Universo e a vida. A transição da interpretação mítica para o modelo racional filosófico consiste na inédita busca desse logos, ou seja, dessas forças e leis intrínsecas à physis que permitem a previsibilidade dos desdobramentos dos seus fenômenos. A harmonia entre os elementos da natureza se estende, também, como exemplo de organização e sentido para a própria vida. Historicamente, essa ruptura entre os modelos míticos e filosóficos de interpretação do mundo ocorreu de forma abrupta na Grécia do século VI a.C., momento conhecido como “milagre grego”.

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