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domingo, 30 de julho de 2017

Não tem cabimento: a teoria da Terra plana está de volta (e tem muita gente que ainda acredita nisso)

Existem muitas teorias de conspiração bizarras, e o talento das pessoas para imaginar todo um conjunto de disparates, para criá-los e mantê-los vivos nas mentes das pessoas enganadas, é formidável. De todas, talvez a terra-plana seja uma das mais absurdas, ao menos entre as que já possuem um público considerável; bem como o facto de já ter todo um arcabouço organizado de ‘explicações’ para ter respostas a fim de manter seus crentes saciados. Nesse post, vou me focar em alguns pontos principais desse arcabouço.



Basicamente, as teorias de conspiração tem na formação destes seus arcabouços algo em comum: conexões elaboradas entre factos reais com assertivas puramente fantasiosas a fim de chegar numa conclusão – justamente a ideia infame que querem defender. Por exemplo, é facto que muitos governos escondem informações de seu povo, e projetos militares quase sempre seguem esse caminho. Temos então um prato cheio para criadores de teorias conspiratórias conectarem factos reais – os segredos militares – com coisas absurdas como disco voador abatido numa área secreta, arma illuminati para reduzir a população mundial, etc.

O terraplanismo não é diferente disso, basta apenas substituir o governo ou o exército – e todas as demais instituições de exploração espacial e agências espaciais doutros países – pela NASA, afinal é tudo que sempre estão citando. Negam a existência de satélites, sondas espaciais, estação espacial internacional, etc. Negam a ida do homem à Lua, negam até que a Lua seja um outro mundo ao qual se possa ir.

Podemos lembrar que antes da existência de qualquer ensaio de exploração espacial, milênios atrás, já era sabido que a Terra é esférica. Por mais intuitiva que pudesse parecer uma terra-plana, tal ideia já não se sustentava diante da análise sistemática do mundo. Visto isso, podemos usar esses conhecimentos antigos e básicos para desconstruir o frágil castelo de cartas dessa teoria conspiratória, uma necessidade diante do crescente número de pessoas enganadas pela mesma.

Vejamos alguns dos principais argumentos que temos encontrado mais frequentemente nas mídias:

A questão do pôr e nascer do Sol:

  • Modelo Terra Plana, duas explicações são usadas, geralmente juntas:
  • Afastamento do Sol: o astro-rei seria um luminar que faz círculos acima do disco da Terra plana, sumindo do campo de visão com a distância;
  • Perspectiva: na ideia dos terraplanistas faz sumir objetos no horizonte; o mesmo argumento é utilizado para explicar o desaparecimento a partir da base em navios e faróis no horizonte.
  • Realidade:
  • Sobre o Afastamento: é um péssimo argumento, até mesmo para um simples observador.
  • O Sol se põe até sumir no horizonte, em vez de gradualmente diminuir até sumir do campo de vista;
  • Depois de se pôr, não é mais possível ver o Sol, nem mesmo com o auxílio de um binóculo, ou telescópio;
  • Não tem cabimento que um luminar com a potência de iluminar continentes inteiros simplesmente desapareça do campo de vista, com simples afastamento.
  • Sobre a Perspectiva:
  • Tal ideia não se sustenta; perspectiva não faz com que um objeto desapareça na parte de baixo antes da de cima – como acontece com barcos, ilhas, faróis, etc – inclusive ao pôr do Sol; é precisamente observável que ele se põe, começando na base e descendo o horizonte.

A questão da Lua:

  • Modelo Terra Plana:
  • Para eles, a Lua é:
  • Um luminar translúcido, que faz voltas acima do disco da Terra tal qual o Sol (alguns dizem que esse trajeto é mais abaixo);
  • Suas fases são causadas pela radiação UV do Sol;
  • O eclipse é causado pela aproximação máxima, aí a radiação solar enegrece completamente a Lua, à medida que essa lua escurecida encobre o Sol em relação ao observador na Terra.
  • Realidade:
  • O mais notável é ver pessoas aceitando explicações sem evidência alguma, nem amostras – por exemplo, um material que fique enegrecido com a radiação e logo volte ao normal assim que ela cesse -, nem testáveis; simplesmente afirmações sem fundamento algum.
  • A Lua ser translúcida não tem o menor cabimento, porque se fosse, poderíamos ver estrelas através dela à noite. No entanto, ela eclipsa completamente até as mais brilhantes, quando passa à frente das mesmas;
  • Se fases fossem causadas pela radiação, não teriam uma forma de sombra precisamente esférica – tal qual a sombra da Terra projetada na Lua. Ainda que eles considerem a sombra ser redonda em função da Lua ser redonda, tal sombra é claramente de uma esfera maior que a esfera Lua, em qualquer dos cenários;
  • O eclipse tal qual o vemos jamais seria explicável por duas esferas logo acima de nós, pois uma pessoa numa distância ainda dentro das proximidades não o veria completamente, e poderia observar o Sol logo acima da Lua. O mesmo seria visto de localidades mais distantes, com o Sol exatamente acima da Lua.

A questão dos objetos distantes parcialmente ocultos pela curvatura:

  • Modelo Terra Plana:
  • Argumentam que se eles estão ocultos em sua base pela curvatura da Terra, tal qual eles deveriam aparecer inclinados para um lado ou outro; do contrário a Terra seria um “cilindro”.
  • Realidade:
  • A inclinação em função da curvatura da Terra é extremamente pequena, literalmente imperceptível, mesmo para objetos ainda observáveis ao longe;
  • Para qualquer objeto que se olhe ao horizonte, há uma direção reta entre ele e seu campo de visão. Logo, de facto há curvatura em todas as direções visto que a Terra é uma esfera, no entanto em relação ao observador é uma única direção: a dele; por exemplo, é como ver sempre a torre de pisa (Itália) do lado oposto ao qual ela é inclinada; não se percebe sua inclinação.

A questão da Gravidade:

  • Modelo Terra Plana: eles negam sumariamente a existência da gravidade, e para explicar a queda dos objetos costumam usar duas explicações principais:
  • Densidade: os objetos caem porque são mais densos que o ar, tal qual objetos afundam na água, ou fluidos mais densos descem enquanto os mais leves ficam acima;
  • Movimento: O disco da Terra está em movimento para cima, e quando pulamos ou caímos, é o chão que se aproxima, não nós que somos atraídos ou puxados para ele.
  • Realidade:
  • Além de densidade não ter o menor cabimento para isso, tal argumento é facilmente refutado usando-se uma câmara de vácuo, como inúmeros experimentos já fizeram – mesmo na ausência do ar, os objetos caem;
  • Se fosse um movimento da Terra para “cima” (sabe-se lá em relação a quê), o efeito da gravidade não seria uma aceleração como observamos na realidade: 10 m/s²; mas seria apenas velocidade. Na realidade, a cada segundo, a velocidade da queda dum objeto aumenta 10 metros por segundo (9,8 m/s² (aceleração) para ser mais exato, não 9,8 m/s (velocidade)); Uma evidência simples de que o que nos leva ao chão é uma aceleração – não uma mera velocidade – é que quanto maior a altura da queda, mais intenso é o impacto ao chegar no chão. Pular da altura de meio metro dá menos impacto que pular de dois metros; e muito menos, é claro, pular de cima de um prédio – melhor não fazer esse experimento… 
Esses são apenas alguns dos muitos disparates ditos por esses grupos de conspiracionistas. Os selecionei porque além de serem os mais rotineiros, são aqueles em que as pessoas mais frequentemente apresentam algumas dúvidas ou dificuldades em compreender, ficando sujeitas a serem convencidas pela mentira.

Os conspiracionistas, pseudo-intelectuais e demais charlatões sempre existiram, e vão continuar existindo, sobre os mais diversos assuntos. Esse tipo de pessoa jamais fez algo realmente importante pelo conhecimento, tudo o que querem é fama e lucro próprio, sem se importar que isso custe a enganação de outras pessoas, bem como seu afastamento de uma compreensão razoável da realidade. Outra forma de identificá-los é que sempre focam mais em destruir e escarnecer, do que em construir e esclarecer, qualquer conhecimento que refute suas convicções.

Infelizmente torna-se necessário refutar uma ideia que é absurda em todos os seus conceitos, em função da quantidade de pessoas que vem sendo enganadas. Estamos aqui para isso: passar conhecimento, esclarecer dúvidas, e principalmente, ensinar ciências não só quanto à informação, mas como própria metodologia na construção do entendimento e compreensão da realidade.

Fonte: Jonatas / AstroPT.

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