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sábado, 13 de novembro de 2010

Fome tem dia?

Gabriel Egidio do Carmo

“A Humanidade se divide em dois grupos: o grupo dos que não comem, e o grupo dos que não dormem com receio da revolta dos que não comem” Josué de Castro, 1961, Geopolítica da Fome.
Anos depois eu estou aqui falando sobre o fato. Falo porque é preciso falar.

É bom falar. Há dois aspectos marcantes na vida de Josué de Castro que considero profundamente humano: as suas obras Geografia da Fome e Geopolítica da Fome. Eu duvidaria se um dia, mesmo se fosse verdade, a fome acabasse no mundo.

A persistência da fome ainda hoje é uma necessidade hipócrita. Quem entende de necessidades básicas são os governantes. Eles sabem porque precisam da fome. Eu só sei o que muitos preferem: oferecer comida a quem precisa somente em ocasiões especiais, a exemplo do Dia Mundial da Alimentação e do dia de Natal.

De todos os nossos geógrafos, o primeiro que conseguiu mostrar esse lado perverso do desenvolvimento foi Josué de Castro. Eu sempre recorro a ele  quando quando me deparo com esse assunto. 

Josué de Castro foi capaz de entender que a persistência da fome no Brasil não era ligada com a origem do povo brasileiro. Para chegar a essa resposta ele percorreu as regiões brasileiras e analisou o processo de colonização, a produção de alimentos e o aparecimento de doenças.

E descobriu que grande parte dos males não advém de fenômenos naturais, como a seca, mas da prioridade dos governantes. Eu me pergunto como ele teria interpretado os programas sociais do governo, como o Bolsa Família.

Analisando a realidade brasileira, Josué de Castro delineou perfeitamente  a existência da fome no mundo. A humanidade era capaz de produzir muito mais alimentos do que consumia, existe alimentos disponíveis para todos desde que todos tenham dinheiro para adquiri-los, a fome era um flagelo feito pelos homens para outros homens.

Josué de Castro foi capaz de entender a persistência da fome no mundo. Enquanto isso eu ainda não me conformo com o combate contra a fome somente em dias especiais. Fome não tem dia marcado. Fome mata.

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