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segunda-feira, 14 de maio de 2018

Por que Guatemala e Paraguai vão mudar suas embaixadas para Jerusalém

A decisão de mudar a sede de suas representações diplomáticas está ligada à relação histórica com Israel - e à submissão aos Estados Unidos.

Presidente da Guatemala, Jimmy Morales, e o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se reúnem em Washington, Estados Unidos - 04/03/2018 (Governo da Guatemala/Divulgação).
Foi inaugurada, nesta segunda-feira, a embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, cidade que é disputada como capital tanto por israelenses como por palestinos. Para demonstrar neutralidade nessa disputa, a maioria dos países prefere manter suas representações diplomáticas em Tel Aviv. A medida do governo do americano Donald Trump foi seguida por poucos países: pela Guatemala, cuja transferência de embaixada está marcada para esta quarta-feira (9), e pelo Paraguai, que fará a mudança até o fim do mês. Mas por que motivo esses países decidiram fazer a mudança?

No caso da Guatemala, uma combinação de três fatores pode ser levada em consideração: a longa história de relações internacionais amigáveis com Israel, a forte presença da comunidade evangélica no país e as relações econômicas do país da América Latina com os Estados Unidos.

A Guatemala foi um dos primeiros países a reconhecer o Estado de Israel quando da sua fundação, em maio de 1948, há 70 anos. Israel forneceu importante assistência bélica e militar para o país centro-americano durante sua guerra civil (1960-1996), quando os Estados Unidos barraram a venda de armamento americano para o país. ”A elite política guatemalteca é profundamente grata a Israel”, diz Granville Moore, professor da Universidade da Califórnia do Sul e especialista em Guatemala.

A grande população evangélica na Guatemala, muito simpática ao povo israelense, pode também ter exercido influência para a mudança da embaixada. ”O presidente Jimmy Morales é cristão evangélico, bem como boa parte da população guatemalteca. Por motivos religiosos, essa comunidade é uma grande apoiadora do Estado judeu em detrimento de seus vizinhos muçulmanos”, diz Pablo Pinto, membro da Latin America Initiative da Baker Institute.

Após o anúncio guatemalteco, congregações judaicas americanas, como a Palm Beach Synagogue e a New Wine Ministries Church, organizaram excursões à Guatemala para agradecer ao país pela mudança.

A governabilidade de Morales também parece ter pesado na sua decisão: para Philip Williams, diretor do Centro de Estudos Latino Americanos da Universidade da Flórida, a decisão é uma forma de fortalecer os laços com os Estados Unidos e o apoio do presidente Trump a seu governo. Um filho e o irmão de Morales estão sob investigação por corrupção desde 2013. 

Já no caso do Paraguai, a influência evangélica não se aplica com a mesma força — sua população é majoritariamente católica. A decisão se baseia mais em estratégias geopolíticas, mas ainda é uma surpresa para os especialistas. “Ela é baseada em cálculos semelhantes aos da Guatemala em política externa, mas também pode ser atribuída aos laços pessoais entre Horácio Cartes (presidente do Paraguai) e Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelense)”, diz Pablo Pinto.

Ele acrescenta pretensões futuras de ambos os países: “Cartes e Morales estão apostando que o fato de estar entre os primeiros a realocar as embaixadas pode resultar em laços mais fortes com Israel, especialmente em termos de acesso à tecnologia israelense“.

Para os especialistas, porém, acima do relacionamento com Israel e das influências religiosas pesa a relação desses países com os Estados Unidos, que os fornece importante auxílio financeiro. “O anúncio de Morales de realocar sua embaixada é mais um movimento político de apoio à administração de Donald Trump. Ele está claramente alinhando interesses nacionais com a política externa americana”, diz Erika de La Garza, diretora da Latin America Initiative da Baker University.

Williams acrescenta que a Guatemala e o Paraguai não fariam a realocação de suas embaixadas sem que Trump tivesse feito o mesmo previamente — seria uma medida controversa e impopular internacionalmente.

Fonte: Revista VEJA.

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