Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São
Paulo – Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
utilizou histórias em quadrinhos para ajudar crianças em idade de
pré-alfabetização a identificarem a presença de distúrbios do sono nelas
mesmas ou em membros de suas famílias. Os desenhos ajudam no
reconhecimento do ronco, insônia, síndrome da apneia obstrutiva do sono
(uma espécie de parada respiratória durante o sono) e síndrome das
pernas inquietas.
O objetivo do estudo foi evitar o agravamento desses problemas, além
de trazer o reconhecimento de que roncar não é normal e pode significar
problemas de saúde mais sérios. Foram submetidas a uma avaliação 548
crianças, com idades entre 6 e 10 anos, estudantes do ensino fundamental
em escolas públicas e privadas.
Segundo a autora da pesquisa, Eleida Camargo, doutora em ciências da
saúde, foram distribuídos questionários às crianças com questões
referentes aos temas de distúrbios do sono. A maioria delas respondeu
que acredita que roncar seja algo normal (57,9%) e apenas 39,6%
reconheceram que o ronco possa representar sintoma de alguma doença.
Após
a leitura das histórias em quadrinhos, que trazem esclarecimentos sobre
os temas ligados aos distúrbios do sono de forma lúdica, o percentual
de alunos que avaliaram o ronco como algo normal caiu para 37,3%. A
maioria das crianças (61,4%) passou a identificar o ronco como um
sintoma. Outro dado interessante da pesquisa foi a percepção de que o
ronco é visto principalmente como um incômodo social. “A gente percebe
que o hábito do ronco acaba sendo considerado negativo mais pelos seus
aspectos culturais do que pelo reconhecimento de que pode ser uma
doença”, disse.
O foco na faixa etária infantil, explica a pesquisadora, foi
importante porque as crianças representam o futuro, além de terem papel
fundamental ao despertar a atenção dos pais. “A população pediátrica é
interessante porque ela é multiplicadora, as crianças são muito
comunicativas, chegam em casa e falam para os pais. Estamos trabalhando
preventivamente com uma geração, que vai se tornar adulta. Esse
conhecimento vai se perpetuar ao longo do tempo”, explica.
O diagnóstico dessas doenças de maneira precoce, disse Eleida, torna
seus tratamentos mais eficazes. O ronco primário infantil, por exemplo,
quando não tratado, pode desencadear a apineia obstrutiva. “A longo
prazo, quem tem essa apineia obstrutiva do sono está muito mais sujeito a
ter problemas cardiovasculares ao despertar. Inclusive o AVC [Acidente
Vascular Cerebral] chega a ser 40% mais propenso em homens adultos”.
Existem,
além disso, casos de pacientes que se tratam durante anos contra a
insônia, com medicação muitas vezes prejudicial, mas descobrem que o
verdadeiro problema que possuem é a síndrome das pernas inquietas. De
acordo com a pesquisadora, a insônia pode ser apenas uma consequência
dessa síndrome, que se caracteriza pela necessidade de movimentação das
pernas quando a pessoa entra em estado de relaxamento.
“Ela vai se deitar e começa a sentir formigamento na perna, que só
melhora quando a movimenta. Então, a pessoa está com muito sono, mas
começa a sentir aquilo. Ela começa a mover as pernas, o sono passa e ela
vai dormir só de madrugada”, explica.
A síndrome das pernas inquietas tem difícil diagnóstico, muitas
vezes em razão do próprio desconhecimento dos médicos. Entre as
crianças, a detecção do problema é ainda mais complexo, uma vez que elas
apresentam sintomas diferentes dos adultos. Eleida explica que os
pacientes infantis conseguem superar o formigamento no momento de
dormir, mas, ao acordar, o problema se manifesta de forma muito mais
intensa. “Quando a criança está na escola, não consegue ficar parada e é
diagnosticada equivocadamente com hiperatividade”, disse.
De acordo com a pesquisadora, o tratamento para a síndrome pode ser
muito simples, apenas pela reposição de ferro. Por isso, essa doença é
mais comum entre mulheres, justamente porque as pacientes femininas
perdem ferro por meio da menstruação. Outra causa da síndrome, por sua
vez, é o fator hereditário, que pode afetar famílias inteiras, esclarece
a pesquisadora.
Edição: Fábio Massalli
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