Questão de História - FUVEST 2017 - Canção do exílio

FUVEST 2017 - 

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

[...]

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias, Primeiros cantos.

Canto do regresso à pátria​

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

[...]

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade, Pau-Brasil.

a) Considerando que os poemas foram escritos, respectivamente, em 1843 e 1924, caracterize seus contextos históricos sob os pontos de vista político e social.

b) Comparando os dois poemas, indique uma diferença estética e uma diferença ideológica entre ambos.

RESPOSTA:
a) A "Canção do exílio", de 1843, foi redigida no início do Segundo Reinado (1840/1889), quando o governo imperial impunha a política do "Regresso Conservador", com o propósito de reprimir as rebeliões provinciais e criar um Estado unitarista, que impedisse o estilhaçamento da unidade territorial. Nesse momento, a sociedade era predominantemente rural, escravista, patriarcal e aristocrática. Quanto ao poema de Oswald de Andrade, elaborado em 1924, no momento em que o regime oligárquico era alvo de violentas contestações dos tenentistas e das oligarquias dissidentes. Sobre a organização social nessa fase histórica deve-se salientar a expansão da urbanização e do trabalho assalariado. 

b) Do ponto de vista estético, “Canção do exílio” é um texto tipicamente romântico, enquanto “Canto do regresso à pátria” é representativo da primeira fase do Modernismo brasileiro. Em decorrência disso, os poemas apresentam várias diferenças estilísticas: o texto de Gonçalves Dias vale-se, por exemplo, de pontuação convencional e rimas nos versos pares, e o de Oswald não usa vírgulas e não explora rimas programadamente. Do ponto de vista ideológico, “Canção do exílio” adota um tom ufanista, em que a distância da terra natal origina o sofrimento do eu lírico, que tem saudade das “palmeiras” e do “Sabiá”, tomados como símbolos nacionais de um país que havia acabado de obter sua independência política. Já “Canto do regresso à pátria” adota um nacionalismo crítico, paródico, bem-humorado, em que os exageros românticos dão lugar a uma visão menos idealizada da pátria, que se mistura, sinedoquicamente, com a cidade de São Paulo.

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