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domingo, 27 de outubro de 2019

Amyr Klink: “Quem diz que a Terra é plana é ignorante e picareta”

Navegador que já deu duas vezes a volta ao Globo em um veleiro lamenta argumentos ideológicos que comprometem a sustentabilidade e analisa a tragédia do óleo no Nordeste. "Não tem origem em nossas 200 milhas"

Publicado por 
Marcelo Menna Barreto, para a RBA 
A experência permitiu a Amyr Klink comprovar na prática o formato do planeta as mudanças climáticas.
São Paulo – Para o navegador Amyr Klink, seria ótimo se a Terra fosse plana. Assim não teria tido tanto trabalho para dar a volta no planeta em um veleiro e ainda poderia ser sentar na borda do mundo para descansar. “Seria bom poder sentar à beira da Terra e ficar com as perninhas balançando, observando o universo. Só que não é”, ironiza. Para ele, a teoria do terraplanismo é difundida gente “ao mesmo ignorante e picareta” e acolhida por pessoas que têm extrema carência emocional.

“Então eles abraçam uma causa altamente polêmica, que vai ser duramente atacada, para se apoiarem uns nos outros”, analisa, ao mesmo tempo em que classifica de cretinos os que consideram uma “fraude” sua experiência de ter circunavegado o globo pois, se a Terra é plana, não existe globo.

Ironias à parte, Amyr Klink lamenta que questões ideológicas interviram em questões cientificamente comprovadas, como o aquecimento global. Experimentado e “curtido” no mar, poucos brasileiros conhecem tanto sobre correntes marítimas, marés e a força dos ventos para uma boa navegação como Klink. E os ventos e marés de hoje em dia o deixam muito mais temeroso em navegar do que há algumas décadas, quando, com muito menos recursos tecnológicos, podia melhor decifrá-los.

Com este paulista de 64 anos, a primeira pessoa a fazer a travessia do Atlântico Sul a remo, a RBA conversou também a respeito do fenômeno do óleo que está vitimando praticamente toda a costa do Nordeste brasileiro.
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O navegante conhecido internacionalmente por ter dado duas voltas ao mundo e realizado cerca de 40 expedições à Antártica, considera muito difícil identificar a origem do óleo. “Esse óleo está submerso, navegando abaixo da superfície e sobe próximo as praias. É um problema sério”, diz.

Uma certeza o autor de best sellers como Paratii Entre Dois Polos e Cem Dias Entre o Céu e o Mar tem: é impossível que o vazamento tenha se originado nas 200 milhas náuticas do Brasil. “Se o óleo tivesse sido solto perto da costa, ele escolheria uma corrente só e não atingiria toda a extensão que está sendo verificada”, explica, ao apontar que houve uma bifurcação na Sul Equatorial, uma corrente que faz uma curva e passa entre as ilhas de Santa Helena e Ascensão, entre os paralelos 8 e 10 – algo entre os estados de Alagoas e Sergipe, mas muito longe da costa.

“Eu não vejo uma solução técnica para isto”, observa. Segundo ele, no instante inicial, detectada a origem, “aí sim é possível usar técnicas de contenção”, o que, na medida em que o óleo começa a se separar em manchas, torna-se praticamente impossível.

A falha que Klink aponta foi o fato de o governo federal, já tendo conhecimento da situação, não ter tornado público e desencadeado um alarme.

Sobre o governo Bolsonaro, Klink avalia que a gestão do país carrega um “esforço que tem acontecido de maneira equivocada”. O navegador, economista de formação, vê nos casos das questões ambientais do país um “erro grande” do governo. “Tinha de construir um esforço de guerra no sentido de se preocupar com questões de sustentabilidade, redução do desmatamento e não fazer declarações pouco responsáveis”, critica.

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