Enem 2016 - Questão 01 - Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.
ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a)
a) legado social.
b) patrimônio político.
c) produto da moralidade.
d) conquista da humanidade.
e) ilusão da contemporaneidade.
Enem 2016 - Questão 03 - Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações.
SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à
a) a consagração de relacionamentos afetivos.
b) administração da independência interior.
c) fugacidade do conhecimento empírico.
d) liberdade de expressão religiosa.
e) busca de prazeres efêmeros.
Enem 2016 - Questão 11 - Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!
NIETZSCHE. F. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro.1977.
O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que
a) reforça a liberdade do cidadão.
b) desvela os valores do cotidiano.
c) exorta as relações de produção.
d) destaca a decadência da cultura.
e) amplifica o sentimento de ansiedade.
Enem 2016 - Questão 19
Ser ou não ser – eis a questão.
Morrer – dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existencialismo ao enfatizar a tensão entre
a) consciência de si e angústia humana.
b) inevitabilidade do destino e incerteza moral.
c) tragicidade da personagem e ordem do mundo.
d) racionalidade argumentativa e loucura iminente.
e) dependência paterna e impossibilidade de ação
Enem 2016 - Questão 34 - Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.
LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.
b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.
c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.
d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.
e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo.
Enem 2016 - Questão 38 - A promessa da tecnologia moderna se converteu em uma ameaça, ou esta se associou àquela de forma indissolúvel. Ela vai além da constatação da ameaça física. Concebida para a felicidade humana, a submissão da natureza, na sobremedida de seu sucesso, que agora se estende à própria natureza do homem, conduziu ao maior desafio já posto ao ser humano pela sua própria ação. O novo continente da práxis coletiva que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui, para a teoria ética, uma terra de ninguém.
JONAS. H. O princípio da responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora PUC-Rio, 2011 (adaptado).
As implicações éticas da articulação apresentada no texto impulsionam a necessidade de construção de um novo padrão de comportamento, cujo objetivo consiste em garantir o(a)
a) pragmatismo da escolha individual.
b) sobrevivência de gerações futuras.
c) fortalecimento de políticas liberais.
d) valorização de múltiplas etnias.
e) promoção da inclusão social.
Enem 2016 - Questão 42 - Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.
DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes.1999.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
a) investigação de natureza empírica.
b) retomada da tradição intelectual.
c) imposição de valores ortodoxos.
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral.
Enem 2016 - Questão 45 - TEXTO I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural. 1996 (adaptado).
TEXTO II
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
Os fragmentos do pensamento pre-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das
a) investigações do pensamento sistemático.
b) preocupações do período mitológico.
c) discussões de base ontológica.
d) habilidades da retórica sofística.
e) verdades do mundo sensível.
GABARITO / RESOLUÇÃO
01 - E
Adorno e Horkheimer são filósofos da Escola de Frankfurt. Em suas obras, e no trecho da questão, é sugerido que uma das características da liberdade de escolha na civilização ocidental resume-se a “escolher o que é sempre a mesma coisa”. Esta ideia reflete, portanto, a ilusão da contemporaneidade. Ilude-se quem imagina estar escolhendo, e até mesmo a escolha da ideologia não é livremente determinada, mas fruto da coerção econômica.
03 - B
O texto apresenta a visão pessimista da condição humana elaborada pelo filósofo Schopenhauer, na qual o homem oscila entre a satisfação ou não de seus desejos. Tal ideia de que a vontade constitui um traço característico da vida humana faz referência ao estoicismo, na medida em que essa tradição filosófica helenística aponta para a necessidade ética de o homem buscar uma forma de vida de controle interior das paixões.
11 - D
A ideia de decadência cultural comparece no pensa - mento de Nietzsche. O trecho da questão reforça esta ideia, já que fala de tristeza, de sentimento de inutilidade, de aridez e de abismo.
19 - A
A questão faz referência ao existencialismo e a alguns de seus elementos essenciais: a tensão entre a consciência individual e a sensação de angústia que não consegue ser superada mesmo com a atividade reflexiva.
34 - C
O trecho da questão enfatiza as ideias de resignação, de aceitação incondicional das coisas e dos acontecimentos que são dados (o que resulta em indiferença) e da impossibilidade de se obter certeza a respeito de qualquer coisa (“nada existe do ponto de vista da verdade”).
38 - B
A questão associa a tecnologia moderna à ideia de ameaça e de riscos resultantes do domínio da natureza pelo homem. Assim, este contexto sugere a necessidade de construção de uma ética (inexistente até o momento, já que esse novo campo constitui uma “terra de ninguém”) que busque assegurar a sobrevivência das gerações futuras.
42 - D
Descartes defendeu a autonomia do pensamento em relação ao senso comum. O conhecimento, portanto, deve ser fruto do uso da razão e do juízo próprio para a obtenção da verdade.
45 - C
O debate entre Parmênides e Heráclito tem origem na discussão a respeito da origem do ser. Esse tema, a ontologia, recebeu dos dois filósofos abordagens diferentes: enquanto Heráclito salientou a impermanência e a fluidez constante, Parmênides defendeu a unicidade e a constância como características fundamentais do ser.
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